Leituras não recomendadas: estupro de fótons e preconceito linguístico.


Percebi que estava divulgando apenas as leituras mais interessantes. Mas, divulgar aqueles artigos em que o autor pisou na bola, principalmente daqueles sites que acompanhamos, talvez seja tão informativo quanto. Então, para variar, seguem abaixo dois textos não recomendados.

Nem tudo o que você pensa, por mais interessante que seja como abstração, deve ser externalizado. Um risco de se escrever em blog é justamente esse. Por haver pouca restrição antes da publicação (além de você mesmo), você pode acabar publicando raciocínios que, mesmo se válidos sob alguma ótica, simplesmente não precisavam ter visto a luz do dia. Steve Landsburg  argumenta que casos de estupro em que a vítima não se recorde de nada, e que não tenham nenhuma sequela física, não são, digamos, tão ruins assim. Como ilustração, afirmou que a penetração em si não quer dizer nada; pois, por exemplo, quando alguém acende uma luz, vários fótons penetram nosso corpo e nem por isso podemos processar legalmente esta pessoa. Para os incrédulos, segue o parágrafo:

Every time someone on my street turns on a porch light, trillions of photons penetrate my body. They cause me no physical harm and therefore the law does nothing to restrain them. Even if those trillions of tiny penetrations caused me deep psychic distress, the law would continue to ignore them, and I think there’s a case for that […] So for the issues we’re discussing here, bodily penetration does not seem to be in some sort of special protected category.

Nem preciso dizer que isso causou rebuliço na blogosfera. Por exemplo, Brad DeLong, exageradamente, é certo, conferiu à Landsburg o título de “pessoa mais estúpida viva”.

Já Guilherme Fiuza gasta mais da metade de seu artigo, que supostamente seria de crítica ao governo Dilma, apenas demonstrando desconhecimento de Linguística e de critérios de correção de prova. Não, por mais que eu não concorde com o governo, nem o caso do Miojo do ENEM, muito menos o caso de uma nota máxima a despeito de um mero erro ortográfico provariam o fracasso de uma política educacional, fosse do PT, do PSTU, do DEM ou do PSDB – se há fracasso neste campo, as razões e evidências são outras, e não estas.

Tampouco é interessante criticar a Dilma por ser mineira. Se um carioca falar “ishperto” ao invés de “esperto” ou “lião” ao invés de “leão” isso não é demonstração de ignorância, da mesma forma que não o é quando um mineiro fala “fazeno” ao invés de “fazendo”. Tudo bem, pode ser engraçado para pessoas de outras regiões; e a Dilma, como presidente, deveria vigiar sua fala e evitar regionalismos. Se o objetivo era fazer graça, tudo bem, piada é piada! Só não inclua isso em sua crítica ao governo; pois, se é para criticar, critique direito, do contrário a impressão que fica para pessoas de fora do seu círculo (pelo menos na minha amostra de 5 economistas consultados) é a de que, para chegar a este ponto, há muito pouco a ser criticado – o que definitivamente não é o caso!

4 pensamentos sobre “Leituras não recomendadas: estupro de fótons e preconceito linguístico.

  1. Tenho que reproduzir um comentário que está no blog do Delong que você linkou……

    ” I hope someone teaches him the basic differences between photons and genitals, and the impact they have on your body.”

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  2. Quanto ao fiuza, tinha lido antes e achado bom. fui ler de novo depois do seu comentario e mudei de opinião……… olha esse trecho………

    “O novo recorde de aprovação que acaba de ser batido pelo governo e pela “presidenta” só comporta duas explicações possíveis: ou o Brasil está “enchergando” bem, ou o Brasil está “enchergano” bem”

    ok. para ele a unica explicacao possivel eh a burrice do povo. nao pode ser a incompetencia da oposicao que nao sabe oferecer um projeto alternativo, q nao sabe fazer oposicao sem parecer elitista….. a culpa eh a imbecilidade do povo (ou dos mineiros que falam chegano)

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