Vitória vai parar (de novo)! O aumento das passagens de ônibus.


Cheguei em Vitória ontem e vi que, novamente, o governo do Espírito Santo pretende aumentar as tarifas de passagem de ônibus e, novamente, os estudantes tentam se organizar para impedir o aumento. A causa das manifestações estudantis é justa – ninguém quer pagar caro por um serviço, seja saúde, transporte, alimentação ou o que for. Mas duvido muito que, da forma como a reivindicação está posta, esta seja eficaz.

Os interessados em baixar o valor da passagem são decerto muitos – são milhares – mas, são interesses difusos. Você pode mobilizar alguns destes por um certo momento. Entretanto, como todos que já trabalharam com isso sabem, a mobilização é tarefa árdua e o interesse e a disposição dos manifestantes com o tempo se desvanecem. Isto ocorre porque o benefício direto para cada um dos participantes é pequeno em relação ao custo direto de participar das mobilizações. Já o outro lado da disputa tem sérias vantagens. Os interessados em aumentar o valor das passagens são poucos, mas são organizados e tem interesses bem definidos. O benefício que eles têm com o aumento é direto, suplanta em muito os custos de luta, e este interesse não se desvanece com o tempo.

Isso quer dizer que os estudantes devem ser passivos e aceitar o aumento sem reivindicar? Claro que não. O que isso quer dizer é que uma mobilização que não lute para mudar a estrutura do mercado está fadada ao fracasso – qualquer vitória no curto prazo, que não mude os incentivos acima, será ilusória; pois, passado algum tempo, os interessados no aumento dos preços voltariam a se mover. Qual seria, então, uma alternativa mais eficaz do que pressionar politicamente a baixa dos preços? Bem, poderíamos criar um sistema que forçasse constantemente o setor de transporte a prestar seus serviços ao menor custo possível. Criar um eterno vigiliante dos preços, que punisse quem o elavasse desmesuradamente e premiasse aqueles que conseguissem fazer um bom serviço a um bom preço. Isso é possìvel? Sim. Uma forma de fazer isso é permitir a concorrência.

Ao permitir a concorrência, todos os dias os usuários fazem uma “manifestação” pelo menor preço, pesquisando e escolhendo a forma de transporte mais vantajosa disponível.  Na verdade, atualmente muitos usuários já fazem isso, só que na margem, recorrendo a transportes alternativos “ilegais”, para escapar dos maus serviços do transporte “oficial”. Permitir que a concorrência cresça, acabando com o monopólio legal das atuais concessionárias de transporte público, é uma forma de garantir a manutenção de preços baixos. E não é preciso acabar com o passe livre ou qualquer outro benefício estudantil – se for essa sua preocupação, é possível mantê-los e inclusive aprimorá-los em um regime de concorrência.

Se for para lutar por esta mudança, aproveito o tempo que estou em Vitória para ajudar a formular propostas e participar da manifestação. Caso contrário, o movimento não passará, novamente, de palco para demagogos que levantam uma bandeira bonita em prol de sua carreira política.