Ana Maria Braga e a educação econômica


Algumas pessoas têm um fetiche de serem educadas pela Ana Maria Braga, pelo Faustão ou pelo Wagner Moura. Eu já tenho o pé atrás e prefiro que os artistas se dediquem àquilo que têm vantagens comparativas – como se comunicar com a dona de casa, não deixar os entrevistados falarem ao vivo, ou atuar. Quando algum deles teima em ir contra sua vocação para tentar comentar sobre economia ou política começa aquele mau pressentimento. Alguma coisa vai sair errada (como no caso do vídeo sobre Belo Monte, que prefiro nem comentar pois a internet já está saturada do assunto). E não foi que em uma quarta-feira (do mês passado, este post já estava escrito) antes de ir trabalhar, justamente em um dos poucos dias em que resolvi ver televisão enquanto tomava café, a Ana Maria Braga resolveu falar de inflação?

Talvez com o intuito de educar as donas de casa, a apresentadora discutiu o aumento dos preços das mensalidades escolares, que em algum lugar do país, se não me engano, São Paulo, parece ter sido de 12%. Era um absurdo. Como os gananciosos diretores de escola poderiam pedir um aumento de 12% se a inflação deste ano, em tese, não passaria de 6,5%? Queriam ganhar quase 6% em cima do consumidor!

Bem, como o leitor que for economista sabe (ou deveria saber), a inflação oficial é baseada em um índice de preços, mais especificamente o IPCA, escolhido entre vários índices de preços possíveis. O índice de preços é uma média ponderada. No caso do IPCA, a ponderação tem como base o orçamento de famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos. Perceba que uma escola em particular não necessariamente – ou, francamente, nunca – enfrentará gastos que sejam semelhantes à cesta de bens e serviços das famílias, que é o IPCA. A escola tem de responder à variação nos seus custos e em sua demanda, não à variação de um índice de preços ao consumidor. Então, não, a variação do preço da mensalidade escolar não necessariamente irá, nem deveria seguir, o IPCA. Na verdade, ela é justamente um dos próprios componentes do índice.

Agora, imagine a confusão que a Ana vai causar em sua espectadora: como a inflação não passa de uma média, sempre haverá aqueles preços que subiram mais e outros menos do que a própria média. E segundo os ensinamentos da apresentadora, os acima da média são os preços daqueles setores ávidos por lucros que quiseram abusar e ganhar mais do que a inflação. Já os abaixo da média, daqueles que foram menos gananciosos e até agüentaram absorver um pouco da inflação pelo bem do consumidor… e no final, o porquê de os preços estarem subindo, a inflação em si, torna-se ainda mais inexplicável.