Tops do blog de 2012 – II


Os dez outros blogs mais acessados por quem passou por este blog:

Blog do Adolfo (principalmente por conta da série “entrevistas com economistas 1, 2 e 3“);
Economic Logic
Drunkeynesian
A mão visível
Blog do Leo Monastério
Marginal Revolution
Blog do Cristiano M. Costa
Blog do Andrew Gelman
Blog do Mansueto Almeida
Normal Deviate

Tops do blog de 2012 – I


Requentando Relembrando os 10 posts mais acessados do ano:

Os dez mandamentos da Econometria Aplicada

PUC-RJ x Reinaldo Azevedo: sobre causalidade e VI.

Pombos são mais espertos do que humanos?

Culto da significância estatística I: um exemplo do teste de normalidade

Câmbio e Inflação I

A inflação na Argentina

Teoria dos jogos na prática

Teoria dos jogos na prática 2

A evidência prova: você é obeso… mas não é gordo!

Ai se eu te pego em grego clássico

O peso-morto das festas de fim-de-ano? Ou, como o economista deseja Feliz Natal.


É fim de ano. Provavelmente, você foi convidado para participar de um amigo-oculto da sua empresa. Você, animado, comprou aquele vinho bacana… mas, voltou com uma vela de Natal para casa. É capaz, ainda, de a pessoa que voltou com o seu vinho não ser um apreciador da bebida e, caso pudesse, ter preferido ficar com a sua vela.

O mesmo pode acabar acontecendo, também, nas trocas de presentes de Natal em família. Será que aquela roupa que você comprou para seu sobrinho mais novo era, realmente, o melhor uso que ele faria do dinheiro? Muito difícil. Você terá sorte se ele não falar na sua frente (e na frente de todos) que preferia um jogo de PlayStation 3. Nem ele e nem você saem felizes.

Todos esses são exemplos de ineficiência. Os presentes, em geral, perdem muito valor para quem os recebeu. E é aí que o economista, geralmente estraga-prazeres, entra para estimar qual é a perda que os presentes das festas de fim-de-ano geram na economia.

Waldfogel, há cerca de 20 anos, em artigo intitulado “o peso-morto do Natal“, estimou esta ineficiência para os EUA, com base em uma amostra de estudantes de economia de Yale. Resultado: os presentes recebidos perdiam cerca de 10% a 30% do valor, podendo gerar um “desperdício” anual de 4 a 13 bilhões de dólares (isso a dólares de 1992!).

Mas, nem todos os economistas querem acabar com a magia do Natal. E aquele rabisco desenho que seu filho fez especialmente para você, com um “te amo papai!” ao final? O custo foi quase zero, mas o valor do presente é quase inestimável! Deste modo, os resultados de Waldfogel foram contestados por Solnick e Hemenway. Os autores alegaram que amostra utilizada era muito restritiva e, assim, não representativa. Com uma amostra mais abrangente, envolvendo entrevistas em trens e aeroportos, o resultado dos autores foi em direção bastante diversa: dar presentes aumenta, em média, em 214% o valor recebido!

List e Shogren julgaram que ambos os artigos tinham um problema metodológico. Tentaram, assim, melhorar os resultados com leilões em que os sujeitos indicariam a quanto estavam dispostos a vender seus presentes de Natal. O resultado também foi de um ganho, mas menor do que anterior, entre 121% a 135%.

Por fim, Ruffle e Tykocinski argumentaram que as principais divergências entre os estudos decorreram, não da amostra utilizada, mas da forma como a pergunta foi formulada. Enquanto um perguntou “quanto dinheiro o tornaria indiferente”, para uma platéia de economistas, o outro perguntou “quanto dinheiro o deixaria igualmente feliz”, pois temia que não-economistas pudessem ignorar o conceito de indiferença. Aparentemente, a mera introdução da palavra “feliz” tem um efeito enquadramento poderoso, fazendo com que as estimativas subam cerca de 50% quando comparadas com a pergunta anterior.

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Feliz Natal (e boa sorte)!

O mundo está ficando cada vez mais violento?


Casos como o recente atirador de Connecticut, muitas vezes, nos fazem ponderar sobre os rumos da sociedade e sobre o estado atual da violência. Ficamos tentados a achar que caminhamos para um futuro sombrio, nunca antes visto na história. O problema é que esse é um assunto muito emocional, o que torna difícil enxergar o quadro mais geral da história da violência na humanidade.

Isso me fez adiantar uma compra que já estava há algum tempo esperando e que, devido aos acontecimentos recentes, tem sido lembrada na blogosfera: o livro de Steven Pinker, The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined. Nesta obra de 832 páginas, Pinker argumenta que não, não estamos ficando mais violentos. Períodos anteriores, inclusive antes da civilização moderna, foram muito piores: genocídios, assassinatos, abuso infantil, etc eram a regra. Na verdade, apesar da impressão que o noticiário pode passar, estaríamos vivenciando uma das fazes mais pacíficas já registradas.

Posto de gasolina não pode, mas livrarias podem! Preço mínimo para desconto em livro digital.


Vimos preços mínimos para cigarro, para advogados… agora mais uma entidade se manifesta: carta aberta da ANL sobre o livro digital pede:

• Recomendamos estabelecer um intervalo de 120 dias entre o lançamento dos livros impressos no formato de papel no mercado brasileiro e sua liberação nas plataformas digitais.

• Solicitamos que o desconto para revenda do livro digital para todas as livrarias e para as demais plataformas seja uniforme, possibilitando igualdade de condições para todos os canais de comercialização nesse novo suporte de leitura.

• Sugerimos que a diferença de preço a menor do livro digital para o formato impresso seja no máximo igual a 30%.

Posto de gasolina não pode, mas livrarias podem?

Como as palavras podem ajudar o economista.


Apesar de importante, não, não estou falando de escrever bem em economia ou de entender da retórica que os economistas usam, como diria McCloskey. Palavras podem ajudar os economistas também de outra forma: como proxies para outras variáveis, aumentando amostras que, muitas vezes, estão disponíveis apenas para um período muito curto de tempo. Foi isso o que apresentou Alan Moreira, em seu working paper com Asaf Manela na SBE 2012.

Existe uma literatura que estuda os riscos de desastre raros percebidos pelos agentes e seus efeitos no mercado acionário. Uma possível medida de “risco” percebido pelos agentes é a volatilidade implícita por opções (VIX), entretanto disponível apenas desde 1986. Já o Wall Strett Journal (WSJ) existe desde 1889. Assim, os autores utilizaram as palavras constantes na capa do WSJ para prever o VIX .  Se palavras chaves utilizadas na capa do jornal servirem de fato para prever satisfatoriamente o risco percebido pelos agentes, é possível utilizá-las como proxy para períodos anteriores e ganhar quase um século de observações!

Os autores treinam o modelo em uma subamostra e testam seus resultados na restante, encontrando um ajuste considerado, por eles, satisfatório. No exercício de previsão fora da amostra, os autores verificaram se os picos de risco estimados correspondiam a fatos relevantes que os justificariam, retratados nos jornais. A impressão dos autores foi  a de que o modelo funciona bem  (o problema que vi nesta abordagem é uma exposição muito grande ao viés de confirmação. Pois, uma vez que você viu que sua estimativa é a de um risco alto, você, com alguma persistência, irá eventualmente achar algum fato histórico que justifique, ou racionalize, a posteriori sua estimativa).

Com uma amostra maior em mãos – e supondo que a medida seja boa – o paper estima com maior liberdade os impactos do risco percebido de desastres no mercado acionário: chega a estimativas com magnitudes plausíveis, segundo a literatura da área, sobre os efeitos do risco no retorno das ações e na probabilidade de um desastre e também sugere  que a persistência de choques seja menor do que anteriormente imaginada.

Mesmo com todas as possíveis limitações do método,  a “regressão de texto” proposta parece muito interessante e vale à pena conferir.

Hal Varian e Nate Silver: entrevista no Google


Vale à pena conferir a entrevista, abaixo, de Nate Silver com Hal Varian no Google:

Mais sobre Nate Silver neste blog aqui.

Via Simply Statistics.

PS: Em futuros posts, alguns comentários sobre papers da ANPEC/SBE 2012.

Efeitos da urna eletrônica: participação maior dos iletrados, mais gastos com saúde e mais votos para a esquerda.


Hoje já estamos acostumados com o uso da urna eletrônica. É rápido, barato, eficiente e muitos garantem ser mais seguro do que o processo anterior. Mas, além desses benefícios, a adoção do sistema eletrônico no Brasil trouxe outros efeitos?

Sim, e é isso que Thomas Fujiwara tenta mostar. Em 1998, foi iniciado o processo de implementação em larga-escala do uso da urna eletrônica no Brasil. Entretanto, como ainda não havia máquinas para todos os municípios, apenas aqueles com mais do que 40.500 votantes receberam a urna – e este detalhe é muito interessante, pois faz com que o implemento da votação eletrônica seja um “quase-experimento” em grande escala.

Como? É plausível imaginar que os fatores determinantes de um município estar logo abaixo (ou logo acima) de 40.500 votantes sejam aleatórios, não-controláveis – isto é, ninguém consegue determinar exatamente quantos votantes existirão na cidade, pois choques externos afetam este número. Deste modo, os municípios com pouco menos de 40.500 votantes e os municípios com pouco mais de 40.500 votantes podem ser considerados similares, sendo a única diferença a adoção (aleatória) da urna eletrônica nas eleições, configurando um regression discontinuity design. Assim,  diferenças  encontradas na proximidade do ponto de corte são estimativas de efeitos causais da votação eletrônica em municípios deste porte.

Tendo isso em vista, Fujiwara estima o efeito causal do uso da urna eletrônica na participação (válida) dos eleitores e o efeito encontrado é bastante grande – cerca de 12 pontos percentuais de votos a mais. O autor vai além, e argumenta que este aumento é devido, principalmente, a uma participação maior de eleitores pouco educados. Apesar de, para alguém alfabetizado, o voto em papel ser uma tarefa trivial, esta pode ser uma tarefa bastante complicada para um analfabeto. A urna eletrônica, por sua vez, além de apresentar a foto do candidato, requer apenas o uso de números, o que facilita sobremaneira o voto. E, de fato, municípios com iletrados acima da média apresentaram um aumento de participação entre 15 a 19 pontos percentuais.

Uma vez que a adoção da urna eletrônica aumenta o número de pessoas mais pobres e iletradas na votação, Fujiwara estima ainda outros efeitos decorrentes deste fato, como:  o aumento na proporção de votos para partidos de esquerda (1/3 de desvio padrão) e o aumento de cerca de 50% com gastos em saúde pública em 8 anos, com repercussões no número visitas pré-natal para mulheres, bem como no peso de recém-nascidos.

Mas será que estes efeitos não são correlações espúrias? A argumentação do autor é persuasiva, mostrando que outras fontes de erro não são tão plausíveis (mas, evidentemente, sempre possíveis). Dentre os argumentos, cabe mencionar, por exemplo, um teste placebo com relação ao primeiro efeito que mencionamos – o aumento da participação nas eleições – com resultados virtualmente iguais a zero.