Um efeito da pobreza


Tinha deixado escapar um post bastante interessante do Alex Tabarrok no Marginal Revolution sobre um artigo que discute um possível efeito imediato da pobreza: com recursos escassos, há uma tendência de focarmos naquilo que é mais urgente e não naquilo que é mais importante.

O paper buscou mostrar, com experimentos, que jogadores com menos “recursos” durante a partida acabaram por, na média, focar nas rodadas mais próximas, prestando menos atenção nas rodadas futuras. Este resultado é intuitivo, pois, dado que nossa razão é limitada, quanto mais problemas urgentes tivermos para lidar, mais difícil será dedicar-se a problemas não-urgentes mas extremamente importantes. Não só esses resultados podem sinalizar um possível (e muitas vezes negligenciado) efeito imediato da pobreza, como também dão (mais) uma explicação geral sobre muitas decisões que tomamos contra nosso próprio bem-estar no longo-prazo.

Como a inflação tem atingido diferentes grupos após a estabilização e abertura comercial


A inflação não é um fenômeno homogêneo e tem um impacto diferente em cada indivíduo. Apesar de ser um fenômeno macro, sua percepção é essencialmente micro –  o IPCA pode ter fechado o ano passado em 6,5%, mas muito provavelmente o seu (e com certeza o meu) custo de vida teve uma variação distinta.

Deste modo, é interessante decompor a inflação por regiões ou por classes sociais, para saber como ela tem impactado grupos diversos. Como a inflação é uma média ponderada, o primeiro passo é saber a composição da cesta de consumo de cada grupo que se pretende analisar. A tabela 2 abaixo, retirada do artigo de Silva e Neto, mostra esta composição para pobres, classe média e classe alta, nas regiões centro-sul e nordeste.

De fato, tomando o nordeste como exemplo, enquanto lá os pobres gastam 41% por cento de sua renda com alimentação e bebidas , este valor é de somente 12% para a classe alta, que tem seu consumo mais vertido para transporte, saúde e despesas pessoais. É interessante notar que esses são bens e serviços com reações diferentes frente à demanda interna e à concorrência externa.

Alimentos e bebidas estão em um grupo de bens a que chamamos de comercializáveis: eles são disciplinados pela concorrência internacional. Isto é, o preço doméstico tem de ser igual ao preço externo vezes a taxa de câmbio (mais os custos de transação, impostos inclusive). Deste modo, este mercado responde menos à demanda doméstica e mais à taxa de câmbio e aos preços internacionais. Tanto que de 1995 a 2008,  a inflação de alimentos superou o IPCA nos anos 2001-2002 (alta do dólar) e nos anos 2007-2008 (alta dos preços internacionais dos alimentos).

Já a saúde e as despesas pessoais (este último inclui serviços e recreação) são não-comercializáveis; além disso, o mercado de transportes (e veículos) é bastante regulado. Assim, os preços destes bens/serviços deveriam refletir mais fatores internos, como a estrutura de custos brasileira e pressões de demanda.

E como se comportaram estes preços no período 1995-2008? Conforme a tabela 3 abaixo,  a inflação de alimentos foi cerca de 5 a 2 vezes menor do que a inflação de outros componentes.

Assim, a inflação acumulada para os pobres no nordeste foi 22,7 pontos percentuais menor do que a média nacional. Aparentemente, a abertura comercial, o real forte e a estabilização da economia tem protegido os mais pobres de uma alta mais acentuada nos preços – o governo deveria pensar duas vezes antes de intervir nessas questões.

Poor Economics


Poor Economics: A Radical Rethinking of the Way to Fight Global Poverty é mais um livro que está na minha wish list da Amazon. Segundo Leontief, nós economistas somos famosos por não “sujar as mãos” coletando os próprios dados. Este não é o caso de Esther Duflo e Abhijit Banerjee, que buscam utilizar randomized controlled trials na análise da pobreza. Como de praxe para os lançamentos recentes, o livro também tem um site homônimo bastante completo (mas o inglês da Duflo é difícil de se escutar por mais de 1 minuto).