Como a inflação tem atingido diferentes grupos após a estabilização e abertura comercial


A inflação não é um fenômeno homogêneo e tem um impacto diferente em cada indivíduo. Apesar de ser um fenômeno macro, sua percepção é essencialmente micro –  o IPCA pode ter fechado o ano passado em 6,5%, mas muito provavelmente o seu (e com certeza o meu) custo de vida teve uma variação distinta.

Deste modo, é interessante decompor a inflação por regiões ou por classes sociais, para saber como ela tem impactado grupos diversos. Como a inflação é uma média ponderada, o primeiro passo é saber a composição da cesta de consumo de cada grupo que se pretende analisar. A tabela 2 abaixo, retirada do artigo de Silva e Neto, mostra esta composição para pobres, classe média e classe alta, nas regiões centro-sul e nordeste.

De fato, tomando o nordeste como exemplo, enquanto lá os pobres gastam 41% por cento de sua renda com alimentação e bebidas , este valor é de somente 12% para a classe alta, que tem seu consumo mais vertido para transporte, saúde e despesas pessoais. É interessante notar que esses são bens e serviços com reações diferentes frente à demanda interna e à concorrência externa.

Alimentos e bebidas estão em um grupo de bens a que chamamos de comercializáveis: eles são disciplinados pela concorrência internacional. Isto é, o preço doméstico tem de ser igual ao preço externo vezes a taxa de câmbio (mais os custos de transação, impostos inclusive). Deste modo, este mercado responde menos à demanda doméstica e mais à taxa de câmbio e aos preços internacionais. Tanto que de 1995 a 2008,  a inflação de alimentos superou o IPCA nos anos 2001-2002 (alta do dólar) e nos anos 2007-2008 (alta dos preços internacionais dos alimentos).

Já a saúde e as despesas pessoais (este último inclui serviços e recreação) são não-comercializáveis; além disso, o mercado de transportes (e veículos) é bastante regulado. Assim, os preços destes bens/serviços deveriam refletir mais fatores internos, como a estrutura de custos brasileira e pressões de demanda.

E como se comportaram estes preços no período 1995-2008? Conforme a tabela 3 abaixo,  a inflação de alimentos foi cerca de 5 a 2 vezes menor do que a inflação de outros componentes.

Assim, a inflação acumulada para os pobres no nordeste foi 22,7 pontos percentuais menor do que a média nacional. Aparentemente, a abertura comercial, o real forte e a estabilização da economia tem protegido os mais pobres de uma alta mais acentuada nos preços – o governo deveria pensar duas vezes antes de intervir nessas questões.

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