Pombos são mais espertos do que humanos?


Segundo este estudo, pelo menos no que tange ao problema de Monty Hall*, sim.

(Este é um problema que envolve uma pegadinha de probabilidade na qual quase todo ser humano cai. Aparentemente, os pombos aprendem. Para saber o que é o problema de Monty Hall, leia abaixo ou o link do wikipedia acima. Para quem assistiu ao filme Quebrando a Banca, este problema aparece logo no início.)

O estudo aplicou o problema de Monty Hall a pombos e verificou que durante o experimento os pássaros foram se adaptando ao problema. Ao final, os pombos adotaram uma estratégia ótima que maximizasse o retorno esperado do prêmio.

Já os humanos, não. No primeiro dia de experimento, ambos, humano e pombo, adotavam uma estratégia razoavelmente similar. Ao final do trigésimo dia de experimento, como os pombos aprenderam rapidamente, os participantes humanos eram 30,67% menos propensos do que os pombos a adotarem a estratégia correta.

*O que é o problema de Monty Hall?

Suponha que você esteja participando de um jogo com três portas e que atrás de uma delas tenha um carro como prêmio. O apresentador do jogo pede a você que escolha uma porta. Se você escolher a porta que tem o carro, você ganha o carro.

Entretanto, após você escolher sua porta, o apresentador abre uma outra porta do jogo e mostra que aquela porta está vazia. Atrás dela não está o prêmio. O apresentador, então, pergunta: “Você quer mudar de porta?”. Há apenas duas portas sobrando, aquela que você escolheu primeiro e aquela que não foi aberta.

Você mudaria de porta? Qual a probabilidade de você ganhar o prêmio, se mudar de porta?

Em geral, as pessoas acham que é 50%. Afinal, ou o prêmio está na porta que você escolheu, ou está na outra porta que sobrou. Mas essa resposta não é correta.

A forma mais fácil de visualizar isso é a seguinte. Vamos nomear as portas de “porta premiada”, “porta não premiada 1” e “porta não premiada 2”. Ao escolher a sua porta, você tinha 1/3 de probabilidade de escolher cada uma delas.

Se você escolher a “porta premiada” e mudar, você perde. Este evento tem probabilidade de 1/3.

Se você escolher a “porta não premiada 1”, o apresentador irá abrir a “porta não premiada 2”, restando unicamente a “porta premiada”. Então se você mudar, você ganha. Este evento tem probabilidade de 1/3

O mesmo raciocínio acima vale para caso você escolha a “porta não premiada 2”. E, novamente, este evento tem probabilidade 1/3.

Logo, a probabilidade de você ganhar caso mude de porta é 1/3+1/3=2/3=66,66%.

Ao que parece, os pombos aprendem rapidamente que mudar de porta dá mais prêmios ao longo do tempo. Já os humanos têm uma dificuldade enorme de aprender o problema acima, mesmo depois de duas centenas de tentativas, conforme o experimento do estudo!

Monopólio da pobreza


Aqui no Brasil, todo mundo quer usar as leis e o governo para retirar recursos da sociedade em seu favor. Se não para transferência de renda de maneira direta, ao menos para conseguir monopólios.

Os jornalistas, por exemplo, em detrimento da liberdade de expressão, querem reaver o monopólio da notícia, chegando ao ponto esdrúxulo de fazer lobby para uma emenda constitucional. Sobre este tema – que merecia post em separado, mas fica para algum dia – deixo aqui o texto  de Lúcia Guimarães e também texto antigo do Alexandre Barros, que não é sobre o jornalismo, é mais geral, mas cabe bem ao assunto.

Mas os advogados, de quem já falamos aqui (sobre controle de preços), porquanto íntimos do sistema e seus meandros, acabam sendo os piores. Sempre.

Vale à pena ler este artigo de denúncia à OAB, que proíbe o exercício da profissão de forma voluntária. Caso o pobre necessite do serviço, o advogado não pode se oferecer para prestá-lo gratuitamente, para que isso não atrapalhe as intenções da OAB de receber dinheiro público pelo ofício – um verdadeiro monopólio da pobreza.

Qual a probabilidade de o Brasil (ou os EUA) estar em uma recessão?


Segundo Marcelle Chauvet, em maio essa probabilidade era de apenas 5,2% no Brasil. Já para os EUA, em abril, a probabilidade era de 4,3%. Para quem, como eu, ainda não conhecia este trabalho de “previsão em tempo real” de uma recessão,  vale à pena consultar os textos do Center for Research on Economic and Financial Cycles. O modelo da Chauvet e Hamilton (em azul, abaixo) consegue capturar todas as recessões dos EUA segundo o NBER (em cinza):

Sobre teorias econômicas


Relendo Von Neumann e Morgenstern, Theory of Games and Economic Behavior, logo nas primeiras folhas há uma passagem que merece ser relembrada, principalmente para aqueles que acreditam em uma explicação geral para tudo, em monismo teórico ou metodológico na economia:

First let us be aware that there exists at present no universal system of economic theory and that, if one should ever be developed, it will very probably not be during our lifetime. The reason for this is simply that economics is far too difficult a science to permit its construction rapidly, especially in view of the very limited knowledge and imperfect description of the facts with which economists are dealing. Only those who fail to appreciate this condition are likely to attempt the construction of universal systems. Even in sciences which are far more advanced than economics, like physics, there is no universal system available at present.

Copiar não é roubar?


Mesmo aqueles que não querem ver muita utilidade no estudo da história do pensamento econômico não podem negar que, ao menos, a HPE serve para nos lembrar que grande parte dos debates e respectivos argumentos “atuais” não são tão atuais quanto parecem.

Um deles é o debate sobre o direito de propriedade intelectual. Este é um tema de bastante controvérsia, inclusive entre escolas liberais. A revista The Economist, em 1865, argumentava de forma radicalmente contra, alegando se tratar de uma forma de monopólio. Ao analisar a proposta de se conceder aos periódicos a propriedade dos artigos por 24 horas, foi enfática:

O mesmo princípio aplicável aos artigos o é também aos livros e às invenções: a prioridade da publicação ou de utilização, se empregada de forma rápida e inteligente, é tudo de que um autor ou inventor pode precisar para receber a remuneração devida ao seu trabalho.

Ao que John Stuart Mill, nos Principles, sentiu necessidade de responder:

Tenho visto com real preocupação, em círculos de opinião que gozam de considerável autoridade, algumas tentativas recentes de desafiar plenamente o princípio de patentes. Tentativas que, se eles conseguirem, introduziriam o livre roubo sob o nome prostituído do livre comércio e fariam dos homens de inteligência, mais do que atualmente, funcionários carentes e dependentes dos homens de dinheiro.

Fonte: Schwartz, La Nueva Economía Política de John Stuart Mill, Tecnos, Madrid,1968.

Entrevistas com Economistas: a década de 70 está de volta III


Adolfo Sachsida entrevista mais nove economistas:

Samuel Pessoa;

Mário Mendonça;

Luciano Nakabashi;

Pedro Albuquerque;

Rodrigo Constantino;

Ubiratan Iorio;

Cláudio Shikida;

José Oreiro; e,

O próprio Adolfo.

 

O que é a probabilidade a posteriori


Deborah Mayo achou que o vídeo do post anterior, sobre as más interpretações do p-valor, parte implicitamente do pressuposto de que, caso o resultado tivesse sido divulgado em forma de uma probabilidade a posteriori, não haveria problemas de interpretação.

Mayo propõe, assim, um rejoinder, com um diálogo evidenciando as dificuldades – em alguns casos maiores – da inversão bayesiana.

O que é o p-valor


Já havíamos falado do p-valor aqui, aqui, aqui e aqui. Agora veja este vídeo sobre o p-valor, explicando que, diferentemente do que as pessoas fazem na prática, você: (i) não pode inverter a probabilidade; (ii) não pode comparar diferentes p-valores com amostras diferentes como medida de evidência (isto é, um p-valor menor não quer dizer evidência mais forte); (iii) e que significância estatística não é a mesma coisa de significância prática.