Valores de aluguel em Brasília (plano piloto)


Está pesquisando apartamento para alugar em Brasília?  Um pouco de web scrapingmanipulação e visualização de dados com os valores (de oferta) dos aluguéis de 1.030 imóveis (Asa Sul, Asa Norte e Sudoeste) do site wimoveis pode ajudar a responder algumas perguntas interessantes.

A primeira delas: qual o bairro mais caro para se alugar, hoje, no plano piloto? Esta é uma pergunta que, veremos, depende do ponto de vista. Veja a tabela abaixo (versão ampliada aqui). M2 quer dizer metro quadrado e pm2 preço por metro quadrado.

Captura de Tela 2014-01-30 às 00.08.44

Na média e mediana – em conformidade com a impressão pessoal de muitos – a Asa Sul é o bairro mais caro para se alugar dos três. Entretanto, note que isso ocorre porque há mais apartamentos maiores para aluguel na Asa Sul, e não porque o valor por metro quadrado é mais caro. Na verdade, o valor por metro quadrado, na média, é maior na Asa Norte e, na mediana, maior no Sudoeste.

Podemos agora decompor a tabela acima não somente por bairro, mas por bairro e número de quartos (versão ampliada aqui) . Na média, o bairro mais barato/caro para morar não é o mesmo a depender de quantos cômodos você quer no apartamento. E, uma curiosidade: na amostra, a média do tamanho dos apartamentos da Asa Norte, em todos os grupos de números de quartos, é menor do que a média do tamanho da Asa Sul.

tabela_wi_2014_01_24

Uma última forma de visualizar as diferenças de preços pode ser com um gráfico de densidade (versão ampliada aqui):

teste

Veja que o pico do Sudoeste (em verde) é em valores mais altos do que na Asa Norte e na Asa Sul. Entretanto, a Asa Sul tem a “cauda” mais pesada em valores próximos a R$ 5.000.

Uma outra pergunta que podemos tentar responder é a seguinte: dos anúncios que temos hoje, na média, os preços daqueles atualizados em 2014 são maiores do que aqueles cuja última atualização foi feita em dezembro de 2013? Pelo quadro abaixo (versão ampliada aqui), infelizmente, sim, e por mais ou menos RS$100,00.

Captura de Tela 2014-01-30 às 00.24.58

E como é a concentração da oferta dos anúncios por corretora? A distribuição de anúncios por imobiliária é homogênea? 

Aparentemente, não. Veja o gráfico abaixo (versão ampliada aqui).

corretoras

Enquanto algumas imobiliárias têm 30 a 40 apartamentos listados, muitas outras têm apenas 1 ou 5.

Isso quer dizer que os anúncios são concentrados? Não necessariamente. Note que apesar de a distribuição de anúncios não ser homogênea, a concorrência é bem grande, e usando como exemplo o índice de Herfindahl–Hirschman chegamos a um valor de 0.013, comumente considerado indicador de alta competitividade.

Há mais que poderíamos ver sobre aluguel. Mas deixemos para depois.  No próximo (em algum próximo) post veremos os dados de valor de venda!

PS: iremos acompanhar regularmente esses preços. E não somente para Brasília. Uma área específica do blog será criada para isso. 

benford.analysis 0.1


O pacote benford.analysis (versão 0.1) está disponível no CRAN e você já pode instalar no R com o comando:

 install.packages("benford.analysis") 

O objetivo do pacote é prover algumas funções que facilitem a validação de dados utilizando a Lei de Benford (para saber mais sobre a lei, veja aqui e aqui).

Validar como e para quê?

Um dos objetivos pode ser o auxilío na detecção de manipulações contábeis. Dados financeiros (como pagamentos) tendem a seguir a Lei de Benford e tentativas de manipulação podem acabar sendo identificadas.

Por exemplo, a lei 8.666/93 estabelece que o limite para se fazer uma licitação na modalidade convite é de R$80.000,00. Será que os valores de licitações seguiriam a Lei de Benford? Pode ser que sim. E, caso haja a tendência, uma tentativa de manipular artificialmente valores licitados para algo pouco abaixo de R$80 mil geraria um “excesso” de dígitos iniciais 7. Restaria verificar uma amostra desses registros para confirmar a existência ou não de manipulação indevida.

Outro objetivo pode ser acadêmico: a validação de dados de pesquisas e censos. Por exemplo, dados de população de municípios, ou dados de renda dos indivíduos tendem a ter distribuição conforme a lei de Benford. Assim, desvios dos valores observados em relação aos valores esperados podem ajudar a identificar e corrigir dados anômalos, melhorando a qualidade da estatística.

Vejamos rapidamente alguns exemplos das funções básicas do pacote.

O benford.analysis tem 6 bases de dados reais, retiradas do livro do Mark Nigrini, para ilustrar as análises. Aqui vamos utilizar 189.470 registros de pagamentos de uma empresa no ano de 2010. Os valores vão desde lançamentos negativos (estornos) até valores na ordem de milhões de dólares.

Primeiramente, precisamos carregar o pacote (se você já o tiver instalado) e em seguida carregar os dados de exemplo:

library(benford.analysis) #carrega pacote

data(corporate.payment) #carrega dados

Para analisar os dados contra a lei de benford, basta aplicar a função benford nos valores que, no nosso caso, estão na coluna ‘Amount’.

 bfd.cp <- benford(corporate.payment$Amount)

Com o comando acima criamos um objeto chamado “bfd.cp” contendo os resultados da análise para os dois primeiros dígitos dos lançamentos positivos, que é o padrão. Caso queira, você também pode mudar quantos digitos deseja analisar, ou se quer analisar os dados negativos e positivos juntos, entre outras opções Para mais detalhes, veja a ajuda da função:

 ?benford

Com a análise feita, vejamos os principais gráficos com o comando:

 plot(bfd.cp) 

Os gráficos resultantes se encontram abaixo. Os dados da empresa estão em azul e os valores esperados pela lei de benford em vermelho.

plot_cp

O primeiro gráfico diz respeito à contagem de observações com relação aos seus dois primeiros dígitos, comparando-a com o valor esperado pela Lei de Benford.  Percebe-se que os dados da empresa se ajustam à Lei, mas, também, que há um salto claro no dígito 50!

O segundo gráfico é análogo ao primeiro, mas faz esta contagem para a diferença dos dados ordenados. Como nossos dados são discretos, este saltos em 10, 20, 30,  são naturais e não devem ser encarados como algo suspeito. Por fim, o terceiro gráfico tem um objetivo diferente e, em geral, você também não deve esperar encontrar um bom ajuste dos dados à reta vermelha, principalmente com dados de cauda pesada. Ali se encontra a soma dos valores das observações agrupadas por primeiros dígitos e a  intenção é identificar grupos de valores influentes (que, se estiverem errados, podem afetar bastante uma estatística).

Vejamos agora os principais resultados da análise com o comando

 print(bfd.cp) 

ou somente

bfd.cp

results_cp

Primeiramente são mostrados dados gerais da análise, como o nome da base de dados, o número de observações e a quantidade de primeiros dígitos analisados.

Logo em seguida têm-se as principais estatísticas da mantissa do log das observações. Se um conjunto de dados segue a lei de benford esses valores deveriam ser próximos de:

  • média: 0.5;
  • variância: 1/12 (0.08333…);
  • curtose: 1.2;
  • assimetria: 0.

Que são, de fato, similares aos dados de pagamento da empresa, confirmando a tendência.

Após isso, temos um ranking com os 5 maiores desvios, que é o que mais nos interessa aqui. Veja que o primeiro grupo é o dos números que começam com o dígito 50, como estava claro no gráfico, e o segundo grupo é o dos números que começam com 11. Esses registros são bons candidatos para uma análise mais minuciosa.

Por fim, temos um conjunto de estatísticas de grau de ajuste – que não irei detalhar agora para não prolongar muito este post. Tomemos como exemplo o teste de Pearson, que é bem conhecido. Veja que o p-valor do qui-quadrado é praticamente zero, sinalizando um desvio em relação ao esperado. Mas, como já dissemos várias vezes neste blog, o mais importante não é saber se os dados seguem ou não a lei de benford exatamente. Para isso você não precisaria sequer testá-los. O mais importante é verificar qual o tamanho do desvio e a sua importância prática. Assim, há um pequeno aviso ao final: Real data will never conform perfectly to Benford’s Law. You should not focus on p-values!

Voltando, portanto, à identificação dos desvios, você pode pegar os conjuntos dos dados “suspeitos” para análise com a função getSuspects.

 suspeitos <- getSuspects(bfd.cp, corporate.payment)

Isto irá gerar uma tabela com os dados dos 2 grupos de dígitos com maior discrepância (pela diferença absoluta), conforme ilustrado abaixo. Veja que são exatamente os dados que começam com 50 ou 11. Você pode personalizar qual a métrica de discrepância utilizar e também quantos grupos analisar. Para mais detalhes veja a ajuda da função:

 ?getSuspects

suspects

Note que nossa base de dados é de mais de 189 mil observações. Verificar todos os dados seria infactível. Poderíamos analisar uma amostra aleatória desses dados. Mas, não necessariamente isso seria eficiente.  Veja, assim, que a análise de benford, com apenas os dois primeiros dígitos, nos deu um grupo de dados suspeitos com menos de 10% das observações, permitindo um foco mais restrito e talvez mais efetivo para análise.

Há outras funcionalidades no pacote e na ajuda há exemplos com dados reais. O pacote é bem simples, o intuito é fornecer um mínimo de funções que automatize os procedimentos, facilite a vida e minimize a quantidade de caracteres digitados de quem queira fazer a análise. Algumas funcionalidades que serão adicionadas no futuro são: melhoria na parte gráfica com o Lattice, inclusão de comparação dos dados com a lognormal e inclusão de mais dados de exemplo.

Se encotrar algum bug, tiver alguma dúvida ou se quiser deixar alguma sugestão, comente aqui!

PS: com relação às sugestões, tanto o R quanto este pacote são livres e com código aberto. Então, sinta-se à vontade não somente para sugerir, mas principalmente para escrever novas funções e funcionalidades!

Estatísticas de homicídio – mais sobre erro de medida.


Qual foi a quantidade de homicídios no EUA em 2010? Três medidas diferentes, com 25% de diferença entre a maior e menor.

12,966, FBI, Crime in the United States 2010.

13,164, FBI, Crime in the United States 2011 (2010 figure).

14,720, Bureau of Justice Statistics (Table 1, based on FBI, Supplementary Homicide Statistics).

16,259, CDC (based on death certificates in the National Vital Statistics System). 

Veja mais no Marginal Revolution.

Para saber mais sobre o assunto, veja no blog também  aqui aqui ,aquiaqui, aqui e aqui.

 

Introducing dplyr


Novo pacote dplyr, com foco em performance. Estive usando o data.table e é realmente muito rápido, se o dplyr for tão rápido quanto e mais intuitivo, será excelente.

RStudio Blog

dplyr is a new package which provides a set of tools for efficiently manipulating datasets in R. dplyr is the next iteration of plyr, focussing on only data frames. dplyr is faster, has a more consistent API and should be easier to use. There are three key ideas that underlie dplyr:

  1. Your time is important, so Romain Francois has written the key pieces in Rcpp to provide blazing fast performance. Performance will only get better over time, especially once we figure out the best way to make the most of multiple processors.
  2. Tabular data is tabular data regardless of where it lives, so you should use the same functions to work with it. With dplyr, anything you can do to a local data frame you can also do to a remote database table. PostgreSQL, MySQL, SQLite and Google bigquery support is built-in; adding a new backend is…

Ver o post original 493 mais palavras

Benford Analysis R Package


Em post anterior falamos sobre a Lei de Benford e que ela pode ser utilizada para o auxílio na detecção de fraudes contábeis ou dados estranhos. Também explicamos por que ela surge – resumidamente, pode-se dizer que números que tenham crescimento exponencial, ou que sejam derivados da multiplicação de outros números, tenderiam à lei de Benford – e isto abrange muitos dados econômicos.

Além da Lei de Benford, temos falado bastante sobre o R por aqui. Então, que tal unirmos as duas coisas? Bem, em alguns dias, com o pacote benford.analysis, você poderá analisar facilmente e rapidamente (espero!) seus dados contra a lei de Benford para identificar possíveis erros.

A idéia do pacote é tornar a análise algo rápido e simples. Por exemplo, o gráfico abaixo é gerado com apenas dois comandos: bfd <- benford(dados) e plot(bfd).

Plot BenfordVamos ver se vai ficar bacana.

Atualização: a versão 0.1 está no CRAN.

Statistics – Globo News style


Tem circulado pelo facebook (aqui e aqui) uma tela que aparentemente foi veiculada no programa Conta Corrente, da Globo News, com o seguinte gráfico:

Alguém vai ser demitido.

Com 5,91% maior do que 6,5%, acho que alguém está prestes a ser demitido!

PS: veja mais exemplos como esse aquiaqui  e aqui.

Investimento Estrangeiro Direto no Brasil por Estado (Indústria)


Os dados do Censo de Capitais Estrangeiros no País, em 2010, trouxeram a distribuição do Investimento Estrangeiro Direto (IED) na indústria por Unidade da Federação (UF).

Somente da Indústria? E como foi feita a distribuição? Aqui voltamos ao que já dissemos sobre erro de medida (ver aqui, aqui, aqui e aqui, por exemplo). Distribuir o estoque investimento estrangeiro por UF é algo complicado, sujeito a erros diversos, tanto ao se definir a metodologia, quanto ao se mensurar o valor. No censo de 1995, por exemplo, os dados foram distribuídos por estado “[…] tomando por base o endereço da sede da empresa”. Será que essa é uma boa medida? Depende.

Percebe-se que uma indústria que concentre o grosso da sua estrutura produtiva no Pará, mas que tenha sede em São Paulo, será considerada um investimento nesta última UF.  Se a intenção é medir onde se encontra o centro administrativo, esta medida poderá ser boa. Todavia, se intenção é medir onde se encontram as unidades produtivas, esta medida terá, talvez, distorções significativas. Qual a melhor forma, então, de se distribuírem os investimentos por estado? Pela localização da sede? Pela localização do ativo imobilizado? Pela distribuição dos funcionários?  Particularmente, acho que não existe uma métrica única que se sobressaia às demais – a melhor opção depende do uso que você irá fazer da estatística.

Voltando ao Censo, a pesquisa passou a considerar a distribuição do ativo imobilizado como critério para alocação do IED – e apenas para a indústria . Os declarantes distribuíram percentualmente o seu imobilizado pelos diferentes estados e isso foi utilizado para ponderar o investimento direto pelas UF’s.

Segue abaixo mapa do Brasil com a distribuição do IED da indústria por Unidade Federativa:

IED_UF

 Para aprender a fazer o mapa, veja aqui.

Complexity Explorer


Além da análise de redes, outro tema correlato e que tende a render bons frutos na economia é o da análise de sistemas complexos.

Espero tratar mais deste assunto futuramente, mas, antes, não poderia deixar de passar uma dica para quem deseja iniciar os estudos na área: o site Complexity Explorer.

O curso Introduction to Complexity está para terminar agora em Janeiro e o Introduction to Dynamical Systems and Chaos acabou de começar.