Os autoritários:E os libertários (em inglês):
Via information liberation, lefty cartoons e Economistas X (versão em português).
Os autoritários:E os libertários (em inglês):
Via information liberation, lefty cartoons e Economistas X (versão em português).
Além da troca entre intenções e resultados, algo comum em discussões políticas e econômicas é a confusão entre meios e fins. Incluo ambas como uma das formas de obscurantismo, pois, especialmente no discurso político, isso é mais do que uma troca rotineira, é muitas vezes feita deliberadamente. Em vez de discorrer sobre as diversas formas em que a inversão entre meios e fins pode ocorrer, vejamos um exemplo específico, extraído de uma revista nacional.
No Brasil, é bastante recorrente a justificativa de se dizer de “esquerda” por desejar fins nobres, como nesta passagem retirada da revista Carta Capital:
A rigor, pela descrição, todos que desejassem tais fins seriam considerados de “esquerda” – independentemente dos meios que defendam para alcançá-los. Obviamente, não é isso o que ocorre, e daí a confusão (deliberada ou não) entre meios e fins. Neste exemplo, os fins citados são desejados por uma gama bastante heterogênea de pessoas – notadamente, também, grupos que não se enquadrariam à “esquerda” do espectro político. Contudo, segundo a autora, restaria a quem não é de “esquerda” a negação de um dos fins, como ser a favor do roubo, ser a favor da exploração, ser a favor da desigualdade de raça ou gênero, ser preconceituoso e intolerante, ser contra a natureza, a favor da miséria ou contra a justiça social. A troca entre meio e fim permite, neste caso, um discurso que faz parecer exclusividade de um grupo os objetivos nobres, mesmo se isso estiver longe da verdade.
Ora, tomando um dos fins elencados como exemplo, se quero que o povo coma bem e direito, como fazer isso? Eis aí a questão interessante. Pois se, quanto ao fim, há consenso, não faltam propostas divergentes quanto aos meios. Que tal reduzir a zero os impostos de alimentos de modo a torná-los mais acessíveis? Ou, quem sabe, fixar um salário mínimo que cubra os custos desta alimentação? Melhor, por que não estatizar toda a produção agrícola? Ou talvez apenas uma distribuição focalizada de renda aos miseráveis? Essas são políticas completamente diferentes, todas pretendendo os mesmos fins, mas que poderiam ser defendidas por grupos politicamente divergentes.
Como no exemplo caricato do texto retirado da Carta Capital, não são raros grupos arrogando a si os fins nobres, quando no fundo o que defendem é algum meio específico de atuação que, não necessariamente, chegará aos resultados esperados. E, infelizmente, não é sempre que a inversão é exposta de forma óbvia e infantil como esta. Quando deliberadamente sutil e benfeita, a troca entre meios e fins pode, inclusive, servir para ocultar interesses escusos. Pois, a partir do momento que alguém arroga apenas a si os melhores fins, está dada a desculpa para os piores meios.