Londres para economistas: a economia clássica


Em Westminster ficava a casa de um dos filósofos mais influentes da economia clássica: Jeremy Bentham, o fundador do utilitarismo.
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Próximo também moraram James Mill e seu filho John Stuart Mill, a quem Bentham influenciou bastante. Outros economistas também freqüentavam o ambiente, como David Ricardo ou o cooperativista William Thompson.

Também em Westminster se encontra o Parlamento, onde tanto Ricardo quanto Mill atuaram.

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Bentham é tido com um dos “pais” da University College of London e lá você encontra uma área dedicada ao filósofo, com sua história e a exibição de um boneco com suas roupas (e seu esqueleto). A UCL também mantém a cabeça de Bentham (que não é mais exibida, pois trata-se de algo bastante delicado de se cuidar) além de mais de 60.000 páginas de seus manuscritos. Para quem se interessa pelos textos do autor, há duas iniciativas interessantes: o Bentham Project e o Transcribe Bentham. Depois de visitar a universidade, você pode tomar um chope no bar do Bentham.
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Em Kensington, James Mill está enterrado na St Mary Abbots.
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E também em Kensington se encontra a casa de John Stuart Mill quando mais velho:
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Se você quiser saber um pouco mais sobre esses personagens e seu posicionamento sobre liberalismo e socialismo, leia aqui.

Londres para economistas: Keynes e Phillips


Keynes morou em Bloomsbury, em frente a Gordon Square, casa n 46.
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E não somente Keynes, mas também outros membros do Bloomsbury Group moraram ao redor.
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Já no museu de ciência, em South Kensington, você encontra a máquina hidráulica que Phillips (o mesmo da curva de Phillips) criou para explicar a macroeconomia visualmente.
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Você pode regular diversas funções na máquina, como a reação do investimento à taxa de juros, gasto do governo, preferência pela liquidez para ver o que ocorre com a renda nacional.

Londres para economistas: David Ricardo, Thomas Gresham, Thomas Mun


A construção abaixo é do Bank of England (banco central da Inglaterra).
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Ao seu lado, construção onde costumava ficar o London Stock Exchange (bolsa de valores de Londres).

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E um dos prédios da antiga Royal Exchange, fundada por Sir Thomas Gresham.
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Falando em Gresham, além de ter sido uma figura proeminente em sua época, é ele quem dá nome a uma famosa lei em economia, a Lei de Gresham (mais um caso da Lei de Stigler). Além disso, Gresham também tem uma rua batizada em sua homenagem, Gresham Street:
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Gresham foi enterrado na Igreja de St Helen Bishopsgate, onde também se encontram os restos do mercantilista Thomas Mun.
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David Ricardo morou em uma casa no mesmo local onde hoje é 33-34 Bury Street.
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E também negociava ações em uma Coffee House que se encontrava onde hoje é a Change Alley.
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Ps: dicas do Leo Monasterio, podem ser encontradas aqui.

Sobre a acurácia das variáveis econômicas II


Em post anterior tratamos da importância de se conhecer bem as variáveis com que se trabalha. Muitas vezes o economista utiliza dados que, por sua dificuldade de mensuração, são estimados por terceiros (IBGE, Banco Central, Tesouro Nacional etc). Assim, há uma tendência a se saber muito pouco sobre como esses dados são produzidos na prática e, sem entender quais suas limitações e quais seus pontos fortes, se esquece de tratá-los devidamente como estimativas.

Neste sentido, gostei muito de ver que outros blogs tem compartilhado desta mesma preocupação.

Dave Giles, por exemplo, resume algumas verdades importantes sobre dados oficiais, que são comumente esquecidas:

  • Dados são revisados o tempo inteiro: o número que saiu ontem do PIB pode mudar drasticamente amanhã.
  • Dados somem: eu já enfrentei isso com uma série de horas de trabalho que estava disponível no IPEA Data e que, alguns meses depois, simplesmente foi descontinuada e excluída.
  • As definições e metodologia mudam: por exemplo, a metodologia do Censo de Capitais Estrangeiros no País mudou recentemente. O usuário tem que ter isto em mente e não pode simplesmente comparar um dado com outro sem ajustes.
  • Os dados oficiais são estimativas: sobre isso tratamos no post anterior!

Dave Giles também recomendou alguns papers sobre o assunto e tratou de um interessante relatório sobre a qualidade dos dados chineses, aspecto fundamental para quem analisa aquela economia.

Já Mark Thoma começou a se dar conta do problema ao ler a notícia de que o IBGE americano está incorporando novos aspectos às contas nacionais que, simplesmente, podem “reescrever a história econômica”. Você já parou para se perguntar quantos “fatos estilizados” que conhecemos, como, por exemplo, a semi-estagnação de algumas economias desenvolvidas, podem (ou não) ser fruto da adoção de uma ou outra metodologia? Em posts futuros trarei exemplos interessantes de dados oficiais que são estimativas, mas agora queria tratar sobre aspectos que norteiam a discussão sobre a qualidade dos dados.

Sobre este quesito, o FMI tem um site inteiramente dedicado ao assunto: o Data Quality Reference Site. Trata-se de um louvável esforço para promover a agenda de pesquisa sobre a qualidade dos dados (macro)econômicos. O Fundo criou um interessante marco para a avaliação da qualidade – em um aspecto ainda qualitativo e não quantitativo – dividido em 6 dimensões:

0 – Condições Prévias: busca verificar alguns aspectos institucionais para a produção do dado, como o entorno jurídico e a quantidade de recursos disponível;

1 – Garantias de Integridade: avalia aspectos como o profissionalismo, a transparência e as normas éticas da produção;

2 – Rigor Metodológico: inspeciona se os conceitos e definições adotados estão conformes ao padrão internacional, se o alcance da pesquisa é suficiente, se as categorizações são adequadas;

3 – Acurácia e Confiança: verificam a adequação das fontes de dados utilizadas, se há um processo de avaliação, validação e revisão dos dados, se as técnicas estatísticas são sólidas;

4 – Utilidade para o Usuário: trata de questões de periodicidade, pontualidade, consistência e revisão;

5 – Acesso: aborda questões de acesso aos dado, acesso aos metadados (isso é, aos dados sobre como os dados foram produzidos) e assistência aos usuários.

O ideal seria termos, também, uma noção quantitativa do erro, mas este esforço já é um grande passo. Você pode encontrar o detalhamento destes pontos para contas nacionais, contas externas, finanças públicas, índices de preço, entre outros, em seu respectivo Data Quality Assessment Framework.

Você, que já trabalhou ou pretende trabalhar com dados em painel, comparando diversos países, já teve a curiosidade de se perguntar sobre a diferente qualidade dos dados que está misturando?

Para alguns países, é possível fazer isso analisando o seu Report on the Observance of Standards and Codes (mais conhecido como ROSC) sobre dados. Tomando o caso do Chile como exemplo, que possui um ROSC para dados no ano de 2007, seria possível descobrir que havia sérios problemas no escopo da pesquisa de índices de preços, e que havia propostas para solucionar a questão em dezembro de 2008. Perceba que, para quem trabalha com dados de preços chilenos antes de 2007, esta é uma informação fundamental!

Instituições e Piratas


Compartilho o interessante debate que está ocorrendo na blogosfera entre A&R e Peter Leeson. Aparentemente, os piratas que navegavam pelo Caribe no século 18 tinham instituições democráticas, votavam em seus lideres – cada pirata com direito a um voto – e ainda tinham modos de destitui-los do poder, caso seu desempenho não fosse satisfatório. Como essas instituições surgiram? Lesson argumenta que elas surgiram pois eram eficientes. A&R discordam. Você pode conferir o debate aqui, aqui e aqui.

Estatística na União Soviética


É bastante comum ver argumentos que são contra a liberdade econômica e, ao mesmo tempo, a favor da liberdade acadêmica, artística, de imprensa e de expressão em geral. Confunde-se – propositadamente ou não – democratização da mídia com financiamento público de propaganda ideológica, ou liberdade de imprensa com imprensa “neutra” ou “politicamente correta” (no sentido fluído que essas palavras ganham em cada contexto em que seu interlocutor usa).

Entretanto, ao menos no limite, há uma contradição inerente a este tipo de raciocínio; pois, uma vez que caiba a um órgão central definir quem exerce o quê em cada campo da esfera econômica, isto também abrange a atividade de professores, pesquisadores, jornalistas e artistas.

Se o único jornal a ser permitido no país é um jornal estatal, qual o incentivo para que notícias desfavoráveis ao governo circulem? Se as únicas universidades permitidas no país são estatais, qual o incentivo para que linhas de pesquisa que não agradem ao governo prosperem? E assim por diante. Sim, é possível contra-argumentar este argumento, e depois contra-argumentar o seu contra-argumento, e este é um debate acalorado e interessante; mas não será desenvolvido neste post. A ideia era apenas fazer uma introdução para comentar sobre a situação da ciência estatística na União Soviética na época de Stalin.

A Rússia produziu grandes estatísticos matemáticos, como Kolmogorov e Slutsky (sim, ele também é o mesmo que você estudou em microeconomia). Todavia, conforme se lê em The Lady Tasting Tea: How Statistics Revolutionized Science in the Twentieth Century, o regime comunista considerava que todas as ciências sociais eram, na verdade, ciências de classe, e  deveriam estar subordinadas ao planejamento central do partido. Para eles, a estatística era uma ciência social. E o conceito de “aleatório” ou “erro-padrão” era algo absurdo em uma economia planejada. Nas palavras de Salsburg (p.147-148):

A palavra russa para variável aleatória se traduz como “magnitude acidental”. Para planejadores centrais e teóricos, isso era um insulto […] nada poderia ocorrer por acaso. Magnitudes acidentais poderiam descrever coisas que ocorrem em economias capitalistas – não na Rússia. As aplicações da estatística matemática foram rapidamente reprimidas.

Como resultado os periódicos de estatística foram se extinguindo e os estatísticos matemáticos tiveram que, ou pesquisar assuntos estatísticos disfarçados com outros nomes, ou mudar de área. E enquanto os Estados Unidos utilizavam os desenvolvimentos dos teóricos russos na prática – como no controle de qualidade industrial – a Rússia teve que esperar algumas décadas, até o colapso da União Soviética, para ver o fruto de seus próprios cientistas aplicado à indústria.

O lucro é justo?


Imagine dois homens.

Um deles trabalha de sol a sol e, se consumir tudo o que ganha, permanecerá pobre. Ao final do ano não estará mais rico do que no começo, nem terá outra perspectiva além de reiniciar todo o processo novamente.

Já o outro homem, atualmente, nada faz, nem com as mãos, nem com o cérebro. Ele não trabalha, contudo, vive bem; tem tudo em abundância; pratos finos, roupas elegantes, mobília suntuosa. Ele vive da renda de seu capital. Ele consome artigos produzidos com o suor dos trabalhadores, pois tais coisas não surgem do nada; foram eles que plantaram o milho, teceram as roupas, construíram a mobília.

Se o trabalhador consumir qualquer excedente que tenha gerado, ele estará sempre no mesmo ponto de partida. Um mesmo trabalho é remunerado somente uma vez. Mas, se o rentista consumir a totalidade de seu ganho anual, ele terá, no ano seguinte, e por toda a eternidade, uma renda fixa e perpétua. O capital, portanto, não é remunerado uma vez, nem duas, mas indefinidas vezes.

“Nesse arranjo social”, indaga Bastiat, “não há um mal monstruoso a ser reformado?”. Indo além, se o rentista não gastar parte de sua renda, ele conseguirá, sem outro esforço, aumentar seu capital de maneira tão rápida que, em pouco tempo, consumiria o mesmo tanto que cem famílias da classe trabalhadora. “Isso tudo não prova que a sociedade em si carrega em seu seio um horrendo câncer, que deve ser erradicado, mesmo sob risco de algum sofrimento temporário?”

É deste modo que o liberal francês inicia seu panfleto Capital e Renda . Isto se passou no ano de 1849, após a revolução francesa de 1848, em um momento de turbulência social em que o socialismo ganhava força. Bastiat direcionou o texto aos trabalhadores de Paris simpáticos às promessas revolucionárias, personificadas, principalmente na França, por Proudhon. E, a despeito do início acima destacado, o objetivo era dizer que sim, a remuneração do capital é justa, mesmo com sua natureza perpétua.

Esta e outras obras de Bastiat encontraram repercussão positiva na classe trabalhadora parisiense. Isto preocupou a frente socialista, levando Chevé, um redator do jornal de Proudhon à época – A Voz do Povo -, a escrever contra as conclusões do liberal. A despeito das críticas, Proudhon abriu as portas à Bastiat, permitindo uma réplica no mesmo jornal, atitude difícil de se observar em debates com oponentes de visões tão distintas: “(…)deixamos abertas as colunas (do jornal) para o nosso adversário; publicaremos seu artigo inteiro, não faremos comentários sobre ele, a fim de não influenciar o julgamento de nossos leitores, e para igualar as vantagens da controvérsia entre o nosso antagonista e nós mesmos”.

A resposta de Proudhon viria somente na semana seguinte; a partir de então, ele toma o lugar de Chevé no debate. Após, tanto o liberal Bastiat quanto o socialista Proudhon trocam mais dez cartas no jornal, sob os olhos do público, acerca da natureza e da legitimidade do lucro. O debate é finalizado com uma última resposta, não publicada, de Bastiat, pois ao final as acusações partiram para argumentos ad hominem por parte de Proudhon.

Este é um debate bastante interessante da HPE, que passa sobre a discussão da origem e legitimidade do lucro, divisão social do trabalho, crédito e, inclusive, sobre a proposta de crédito gratuito para os trabalhadores. Caso você, como eu, tenha se interessado pelo episódio, continue lendo aqui.

O mundo está ficando cada vez mais violento?


Casos como o recente atirador de Connecticut, muitas vezes, nos fazem ponderar sobre os rumos da sociedade e sobre o estado atual da violência. Ficamos tentados a achar que caminhamos para um futuro sombrio, nunca antes visto na história. O problema é que esse é um assunto muito emocional, o que torna difícil enxergar o quadro mais geral da história da violência na humanidade.

Isso me fez adiantar uma compra que já estava há algum tempo esperando e que, devido aos acontecimentos recentes, tem sido lembrada na blogosfera: o livro de Steven Pinker, The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined. Nesta obra de 832 páginas, Pinker argumenta que não, não estamos ficando mais violentos. Períodos anteriores, inclusive antes da civilização moderna, foram muito piores: genocídios, assassinatos, abuso infantil, etc eram a regra. Na verdade, apesar da impressão que o noticiário pode passar, estaríamos vivenciando uma das fazes mais pacíficas já registradas.