Guias e dicas para alunos de mestrado e doutorado


Na semana passada divulgamos o Manual de sobrevivência na universidade: da graduação ao pós-doutoradodo Leo Monasterio. Nesta semana, Dave Giles faz um levantamento de guias e dicas para os alunos de mestrado e doutorado que valem a pena ser compartilhados:

Para você que está fazendo mestrado ou doutorado e se sentia perdido, eis bastante material para consulta.

Sobre a acurácia das variáveis econômicas II


Em post anterior tratamos da importância de se conhecer bem as variáveis com que se trabalha. Muitas vezes o economista utiliza dados que, por sua dificuldade de mensuração, são estimados por terceiros (IBGE, Banco Central, Tesouro Nacional etc). Assim, há uma tendência a se saber muito pouco sobre como esses dados são produzidos na prática e, sem entender quais suas limitações e quais seus pontos fortes, se esquece de tratá-los devidamente como estimativas.

Neste sentido, gostei muito de ver que outros blogs tem compartilhado desta mesma preocupação.

Dave Giles, por exemplo, resume algumas verdades importantes sobre dados oficiais, que são comumente esquecidas:

  • Dados são revisados o tempo inteiro: o número que saiu ontem do PIB pode mudar drasticamente amanhã.
  • Dados somem: eu já enfrentei isso com uma série de horas de trabalho que estava disponível no IPEA Data e que, alguns meses depois, simplesmente foi descontinuada e excluída.
  • As definições e metodologia mudam: por exemplo, a metodologia do Censo de Capitais Estrangeiros no País mudou recentemente. O usuário tem que ter isto em mente e não pode simplesmente comparar um dado com outro sem ajustes.
  • Os dados oficiais são estimativas: sobre isso tratamos no post anterior!

Dave Giles também recomendou alguns papers sobre o assunto e tratou de um interessante relatório sobre a qualidade dos dados chineses, aspecto fundamental para quem analisa aquela economia.

Já Mark Thoma começou a se dar conta do problema ao ler a notícia de que o IBGE americano está incorporando novos aspectos às contas nacionais que, simplesmente, podem “reescrever a história econômica”. Você já parou para se perguntar quantos “fatos estilizados” que conhecemos, como, por exemplo, a semi-estagnação de algumas economias desenvolvidas, podem (ou não) ser fruto da adoção de uma ou outra metodologia? Em posts futuros trarei exemplos interessantes de dados oficiais que são estimativas, mas agora queria tratar sobre aspectos que norteiam a discussão sobre a qualidade dos dados.

Sobre este quesito, o FMI tem um site inteiramente dedicado ao assunto: o Data Quality Reference Site. Trata-se de um louvável esforço para promover a agenda de pesquisa sobre a qualidade dos dados (macro)econômicos. O Fundo criou um interessante marco para a avaliação da qualidade – em um aspecto ainda qualitativo e não quantitativo – dividido em 6 dimensões:

0 – Condições Prévias: busca verificar alguns aspectos institucionais para a produção do dado, como o entorno jurídico e a quantidade de recursos disponível;

1 – Garantias de Integridade: avalia aspectos como o profissionalismo, a transparência e as normas éticas da produção;

2 – Rigor Metodológico: inspeciona se os conceitos e definições adotados estão conformes ao padrão internacional, se o alcance da pesquisa é suficiente, se as categorizações são adequadas;

3 – Acurácia e Confiança: verificam a adequação das fontes de dados utilizadas, se há um processo de avaliação, validação e revisão dos dados, se as técnicas estatísticas são sólidas;

4 – Utilidade para o Usuário: trata de questões de periodicidade, pontualidade, consistência e revisão;

5 – Acesso: aborda questões de acesso aos dado, acesso aos metadados (isso é, aos dados sobre como os dados foram produzidos) e assistência aos usuários.

O ideal seria termos, também, uma noção quantitativa do erro, mas este esforço já é um grande passo. Você pode encontrar o detalhamento destes pontos para contas nacionais, contas externas, finanças públicas, índices de preço, entre outros, em seu respectivo Data Quality Assessment Framework.

Você, que já trabalhou ou pretende trabalhar com dados em painel, comparando diversos países, já teve a curiosidade de se perguntar sobre a diferente qualidade dos dados que está misturando?

Para alguns países, é possível fazer isso analisando o seu Report on the Observance of Standards and Codes (mais conhecido como ROSC) sobre dados. Tomando o caso do Chile como exemplo, que possui um ROSC para dados no ano de 2007, seria possível descobrir que havia sérios problemas no escopo da pesquisa de índices de preços, e que havia propostas para solucionar a questão em dezembro de 2008. Perceba que, para quem trabalha com dados de preços chilenos antes de 2007, esta é uma informação fundamental!

Culto da significância estatística I: um exemplo do teste de normalidade


A maioria dos trabalhos econométricos aplicados parece confundir significância estatística com significância prática ou econômica.  Apesar de ser um problema simples, por ser uma prática bastante difundida, percebe-se que ainda há certa dificuldade de entender como e quando isso ocorre.

Aproveitando o post do Dave Giles, vamos dar um exemplo corriqueiro: um teste de normalidade.

Ao tomar um artigo aplicado que utilize o teste de normalidade, é provável que você se depare com o seguinte procedimento.

1) O autor escolherá algum teste frequentista disponível, como o bastante utilizado teste de Jarque-Bera.

2) O teste de Jarque-Bera tem como hipótese nula a normalidade. Assim, se o p-valor for menor do que 5% (ou 10%), p<0,05 (p<0,10), então o autor rejeita a normalidade. Já se p>0,05, aceita-se a normalidade.

O que acabamos de descrever acima é algo bastante comum e é um dos exemplos da confusão entre significância estatística e significância prática ou econômica.

Por quê?

Porque você, muito provavelmente, não quer saber se a distribuição é exatamente normal, mas sim se ela é aproximadamente normal.  E o teste, da forma como está formulado, não responde a última pergunta.

Apenas o p-valor não irá te dizer o quão grande é o desvio em relação à normalidade.

O teste Jarque-Bera utiliza como parâmetros os coeficientes de curtose e assimetria (que na normal são de 3 e 0, respectivamente).  Queremos saber se nossa distribuição é aproximadamente normal porque, desvios muitos grandes, como, por exemplo, uma curtose acima de 4 e assimetria acima de 1 invalidaria nossos erros-padrão e intervalos de confiança.

Agora imagine que sua distribuição tenha os coeficientes iguais a 3,000000000001 e 0,00000000000001. Podemos dizer que a distribuição seria, para fins práticos, igual a uma normal, pois assumir normalidade não prejudicaria sua inferência. Mas, com uma amostra enorme, você consegue ter um p-valor arbitrariamente baixo, como p<0,00001 – um resultado “significante” – e você rejeitaria a normalidade quando ela é cabível.

Vide o caso do post do Dave Giles, em que com uma amostra de 10.000 observações você poderia rejeitar a normalidade “a 10% de significância”, sendo que, para fins práticos, muito provavelmente os desvios sugeridos poderiam ser negligenciáveis.

Por outro lado, você poderia ter uma distribuição cujos coeficientes fossem iguais a 5 e 2, mas, devido ao reduzido tamanho amostral, o p-valor poderia ser moderado, como p=0,30. O resultado não é “significante”. Mas, neste caso, você aceitaria a normalidade em uma situação em que qualquer inferência posterior seria completamente prejudicada.