A inflação na Argentina III


O jornal La Nación anuncia: argentinos ressuscitam os fiscais do Sarney.

La funcionaria resaltó que la presidenta Cristina Kirchner, la semana pasada, al anunciar “Mirar para Cuidar”, el programa de militantes en la calle controlando precios, “convocó a que todos cuidemos los logros y les dijo a los empresarios que el aumento en los salarios y asignaciones, no hay ninguna razón para que nada cambie de precio por estos anuncios”.

Via Celso Toledo.

Déficits causam câncer


Reinhart e Rogoff perderam muito tempo com os argumentos errados. Vejam o gráfico:

deficit_e_cancer

Brincadeiras à parte, gostei da carta dos autores a Krugman e do post do Hamilton.

Já DeLong argumenta que, se os autores dizem que a idéia geral do artigo não se altera radicalmente por causa dos erros, por outro lado, isso não muda o fato de o argumento ter sido fraco desde o princípio (não que eu concorde com DeLong, mas o ponto é mais do que pertinente):

The third thing to note is how small the correlation is. Suppose that we consider a multiplier of 1.5 and a marginal tax share of 1/3. Suppose the growth-depressing effect lasts for 10 years. Suppose that all of the correlation is causation running from high debt to slower future growth. And suppose that we boost government spending by 2% of GDP this year in the first case. Output this year then goes up by 3% of GDP. Debt goes up by 1% of GDP taking account of higher tax collections. This higher debt then reduces growth by… wait for it… 0.006% points per year. After 10 years GDP is lower than it would otherwise have been by 0.06%. 3% higher GDP this year and slower growth that leads to GDP lower by 0.06% in a decade. And this is supposed to be an argument against expansionary fiscal policy right now?….

Gráfico retirado de Os números (não) mentem.

Sobre a acurácia das variáveis econômicas III


Em posts anteriores falamos sobre a qualidade dos dados macroeconômicos e que dados oficiais são estimativas (ver aqui e aqui). Mas, qual o sentido prático disto? Vejamos com um exemplo.

Na conta de importação de serviços do balanço de pagamentos do México, fretes e seguros respondem por US$ 9,8 bilhões, cerca de 33% dos US$ 29 bilhões que totalizam a rubrica – trata-se de seu componente mais relevante. Como o México estima esse valor?

Antes de entrar no caso do México, tratemos brevemente dos meios de estimação mais comuns de fretes e seguros entre os países. O primeiro método é por meio dos valores declarados na aduana. Quando esta tem um campo de fretes e seguros discriminados em algum documento administrativo, é possível ao compilador utilizar estes valores para a estimação. Um segundo método é utilizar alguma proporção das importações ou exportações. Muitas vezes, a aduana do país registra apenas o valor CIF das importações, isto é, o valor com os custos de fretes e seguros incluídos. Deste modo, o compilador realiza uma pesquisa a cada 5 ou 10 anos, por exemplo, para estimar qual é a proporção do valor importado que corresponde a fretes e seguros.

É possível que você tenha pensado: “o primeiro método, com os dados da aduana, não deveria ser considerado uma estimativa, é o valor real!”. Mas não é. Voltemos ao México.

O México é um país que poderia se enquadrar no primeiro caso – sua aduana registra valores de fretes e seguros. Contudo, os pagamentos de fretes e seguros relatados em uma operação da aduana correspondem à importação de uma ampla gama de produtos, de diferentes naturezas e de vários países, tudo consolidado em um único documento. A regulamentação aduaneira tem suas próprias peculiaridades, não necessariamente relacionadas às informações que desejariam os compiladores da estatística. Ao fim, os dados da aduana lhes pareciam muito imprecisos, subestimados e demasiadamente agregados.

Com isto em mente, o Banxico buscou metodologia alternativa. Sua intenção era calcular o valor ao custo real de mercado e, assim, buscou preços no país vizinho, os Estados Unidos, que publicam, mensalmente, dados de custo médio dos fretes e seguros de importação por tipo de produto, país de origem e meio de transporte. Entretanto, o custo médio varia bastante por volume importado, e é preciso realizar este ajuste. Assim, roda-se uma regressão deste custo médio contra dummies dos portos dos EUA (pois cada porto pode ter um custo diferente) e volume importado (em log), para encontrar o coeficiente de ajuste entre volume e custo médio, chamado aqui de beta. Com o custo médio, o beta para ajuste e o volume das importações mexicanas em mãos , é possível estimar os custos de fretes e seguros do país. Atualizam-se o beta anualmente e o preço médio mensalmente sendo possível, deste modo, obter estimativas por produto, país e meio de transporte, que variam conforme condições de mercado, algo que não seria factível com os dados administrativos da aduana.

Mas, qual a diferença deste valor com o anterior, da aduana? O novo método estima custos cerca de duas vezes maiores e isso pareceu mais alinhado à realidade de mercado do que os dados anteriormente declarados. É uma diferença bem significativa.

Portanto, é importante atentar-se para dois detalhes: (i) dados que, a primeira vista, poderiam ser considerados “os valores reais” (dados de questionários, formulários administrativos, etc), podem ter problemas e estar tão sujeitos a erros quanto outros procedimentos; (ii) muitos componentes dos dados macroeconômicos que você utiliza, tal como a conta de fretes e seguros do exemplo acima, são derivados de um processo de estimação prévia. No nosso exemplo, seja o dado administrativo, ou o dado derivado pela outra metodologia, fica claro que ambos têm que ser vistos como estimativas, cada método com suas vantagens e limitações, sendo preciso entendê-las para saber o que aquele dado pode ou não pode te responder. 

Sobre a acurácia das variáveis econômicas II


Em post anterior tratamos da importância de se conhecer bem as variáveis com que se trabalha. Muitas vezes o economista utiliza dados que, por sua dificuldade de mensuração, são estimados por terceiros (IBGE, Banco Central, Tesouro Nacional etc). Assim, há uma tendência a se saber muito pouco sobre como esses dados são produzidos na prática e, sem entender quais suas limitações e quais seus pontos fortes, se esquece de tratá-los devidamente como estimativas.

Neste sentido, gostei muito de ver que outros blogs tem compartilhado desta mesma preocupação.

Dave Giles, por exemplo, resume algumas verdades importantes sobre dados oficiais, que são comumente esquecidas:

  • Dados são revisados o tempo inteiro: o número que saiu ontem do PIB pode mudar drasticamente amanhã.
  • Dados somem: eu já enfrentei isso com uma série de horas de trabalho que estava disponível no IPEA Data e que, alguns meses depois, simplesmente foi descontinuada e excluída.
  • As definições e metodologia mudam: por exemplo, a metodologia do Censo de Capitais Estrangeiros no País mudou recentemente. O usuário tem que ter isto em mente e não pode simplesmente comparar um dado com outro sem ajustes.
  • Os dados oficiais são estimativas: sobre isso tratamos no post anterior!

Dave Giles também recomendou alguns papers sobre o assunto e tratou de um interessante relatório sobre a qualidade dos dados chineses, aspecto fundamental para quem analisa aquela economia.

Já Mark Thoma começou a se dar conta do problema ao ler a notícia de que o IBGE americano está incorporando novos aspectos às contas nacionais que, simplesmente, podem “reescrever a história econômica”. Você já parou para se perguntar quantos “fatos estilizados” que conhecemos, como, por exemplo, a semi-estagnação de algumas economias desenvolvidas, podem (ou não) ser fruto da adoção de uma ou outra metodologia? Em posts futuros trarei exemplos interessantes de dados oficiais que são estimativas, mas agora queria tratar sobre aspectos que norteiam a discussão sobre a qualidade dos dados.

Sobre este quesito, o FMI tem um site inteiramente dedicado ao assunto: o Data Quality Reference Site. Trata-se de um louvável esforço para promover a agenda de pesquisa sobre a qualidade dos dados (macro)econômicos. O Fundo criou um interessante marco para a avaliação da qualidade – em um aspecto ainda qualitativo e não quantitativo – dividido em 6 dimensões:

0 – Condições Prévias: busca verificar alguns aspectos institucionais para a produção do dado, como o entorno jurídico e a quantidade de recursos disponível;

1 – Garantias de Integridade: avalia aspectos como o profissionalismo, a transparência e as normas éticas da produção;

2 – Rigor Metodológico: inspeciona se os conceitos e definições adotados estão conformes ao padrão internacional, se o alcance da pesquisa é suficiente, se as categorizações são adequadas;

3 – Acurácia e Confiança: verificam a adequação das fontes de dados utilizadas, se há um processo de avaliação, validação e revisão dos dados, se as técnicas estatísticas são sólidas;

4 – Utilidade para o Usuário: trata de questões de periodicidade, pontualidade, consistência e revisão;

5 – Acesso: aborda questões de acesso aos dado, acesso aos metadados (isso é, aos dados sobre como os dados foram produzidos) e assistência aos usuários.

O ideal seria termos, também, uma noção quantitativa do erro, mas este esforço já é um grande passo. Você pode encontrar o detalhamento destes pontos para contas nacionais, contas externas, finanças públicas, índices de preço, entre outros, em seu respectivo Data Quality Assessment Framework.

Você, que já trabalhou ou pretende trabalhar com dados em painel, comparando diversos países, já teve a curiosidade de se perguntar sobre a diferente qualidade dos dados que está misturando?

Para alguns países, é possível fazer isso analisando o seu Report on the Observance of Standards and Codes (mais conhecido como ROSC) sobre dados. Tomando o caso do Chile como exemplo, que possui um ROSC para dados no ano de 2007, seria possível descobrir que havia sérios problemas no escopo da pesquisa de índices de preços, e que havia propostas para solucionar a questão em dezembro de 2008. Perceba que, para quem trabalha com dados de preços chilenos antes de 2007, esta é uma informação fundamental!

Mais Google: previsões de gripe e de dengue em “tempo real”


Como já havia dito, para quem gosta de trabalhar com dados, conciliando teoria e prática, o Google deve ser a empresa dos sonhos.

Agora, veja a empresa fornecendo mapas com tendências de gripe  e  de dengue ao redor do mundo, com detalhes anuais por país e em “tempo real”, tomando por base termos de pesquisa relacionados às doenças e seus sintomas.

Será que a dengue está pior este ano do que no ano passado no Brasil? Aparentemente sim. E os dados do Google podem fornecer uma resposta mais tempestiva do que os dados oficiais:

Dengue

Mas esses dados fornecem uma boa aproximação dos casos reais? Bom, julgue você mesmo com o gráfico abaixo, comparando o indicador do Google com os dados do Ministério da Saúde:

Dengue 2

Impressionante.

Mais sobre o Google aqui (entrevista com Nate Silver) e aqui (Hal Varian aplicando teoria dos jogos na prática).

Via Marginal Revolution

Um livro de História do nosso país


Após um período viajando, blog de volta. Para retomar as atividades, compartilho uma imagem não muito boa da realidade educacional de nosso país (via Roberto Ellery):

livro_imparcial

 

Imparcial e historicamente acurado, não?

Isso me lembrou uma prova para médicos, no mesmo nível, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.