Tomando como analogia este estudo, sim.
A hipótese é a de que, quando você está de bom (mau) humor, você tende a gastar mais tempo avaliando o lado positivo (negativo) das coisas, inclusive do atual governante.
Os autores buscaram testar esta hipótese analisando os jogos esportivos locais. Sabe-se que os resultados desses jogos afetam o bem-estar das pessoas e não são frutos de decisões políticas.
Em tese, portanto, você não deveria mudar a avaliação sobre um governante simplesmente porque seu time ganhou um jogo na última semana.
Contudo, os resultados encontrados indicam que, na média, as pessoas mudam o voto – e os valores encontrados foram relativamente altos! Uma vitória do time local, 10 dias antes das eleições, poderia aumentar os votos para o candidato da situação em até 1.13 pontos percentuais.
A primeira reação a esse valor pode ser – como foi a minha – a de pensar que estamos diante de uma correlação espúria. Ora, não é possível que um mero resultado de um jogo mude tanto os resultados de uma eleição… Mas os autores são cuidadosos e têm uma retórica persuasiva. Primeiro, eles controlam para outros fatores e isso não muda muito a magnitude do coeficiente. Segundo, eles realizam um teste placebo, buscando verificar se jogos futuros afetam as eleições no passado (o que seria absurdo) e encontram coeficientes quase iguais a zero e estatisticamente insignificantes.
Mas, além dos dados acima – não experimentais – os autores aplicam questionários durante um campeonato de basquete universitário. Neste caso, é possível controlar com mais cuidado fatores diversos que permitiriam encontrar uma correlação espúria. Os resultados foram similares – cada vitória elevava a aprovação de Obama, na média, em 2.3 pontos percentuais. E, fato interessante, quando os participantes foram informados dos resultados dos jogos antes de se perguntar sobre Obama, o efeito desapareceu! Isto é, uma vez que o sujeito se torna consciente do que está afetando seu bom humor, ele não deixa isso afetar outras áreas de sua vida, como o julgamento sobre o desempenho de um político.
Com dados eleitorais e esportivos abundantes no Brasil, acredito que seja possível replicar este estudo por aqui.
Via Andrew Gelman e Marginal Revolution.
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