Rogério Ferreira tocou em alguns pontos interessantes de tática para a manifestação contra o aumento das passagens.
De tudo que foi discutido, com o texto abaixo, aqui e aqui, podem ser resumidas algumas questões: (i) não existe almoço grátis, sempre alguém vai pagar a conta, seja na roleta seja por subsídio do governo; (ii) a estrutura de mercado vigente parece não promover incentivos para o serviço ser prestado de maneira satisfatória; (iii) do jeito que as coisas estão, os usuários são o elo mais fraco, pois a possibilidade de rent-seeking supera e muito os interesses difusos da população – é preciso dar incentivos mais saudáveis, que enfraquecem a empresa concessionária, como estimular a concorrência; (iv) a despeito de tudo isso, sair na rua atrapalhando a população e estando sujeito a ser identificado como responsável por atos de vandalismo (mesmo que injustamente) pode ser um tiro no pé.
Segue o texto do Rogério.
Eu não sei.
Parece que virou lugar comum fechar ruas e abrir o pedágio da Terceira Ponte.
Quando dizem que vão abrir o pedágio da Terceira Ponte, o próprio Governo já orienta que a RodoSol mantenha as cancelas abertas. E se o contrato de concessão for o mesmo, o Governo tem que compensar a RodoSol pelas perdas. E aí, quem não usa a ponte paga o pedágio de quem ficou sem pagar…
É um protesto que penaliza a população.
Quando você paralisa o trânsito, pode até pressionar ou mesmo chamar a atenção, mas quando vira lugar comum, acaba perdendo o efeito ou desgastando precocemente o movimento.
E quando você paralisa o trânsito, também penaliza a população.
Bem, os dados da Ceturb mostram que não houve redução no número de usuários que utilizam o sistema Transcol. E para o trabalhador comum e formalizado, o reajuste não afeta tanto o seu bolso, pois ele utiliza vale-transporte e o desconto no seu salário não pode ser maior que 6%. E o Governo, ainda garante passagem com valor menor valor aos domingos.
E para os estudantes, ele sinaliza com uma possível gratuidade.
Mas não existe nada de graça. Mesmo que não aconteça o reajuste do valor da passagem cobrada no ônibus, isto não quer dizer que a população irá pagar menos. O sistema Transcol tem duas tarifas: a “tarifa única” e a “tarifa técnica”.
A tarifa única é aquela que você paga na roleta do ônibus. Mas não é este o valor que as empresas recebem.
As empresas recebem o valor correspondente à tarifa técnica. Então, se o Governo recuar do reajuste, as empresas não irão receber menos, o que ele irá fazer é aumentar o valor do subsídio ao Sistema Transcol. O lucro das empresas está garantido no valor da tarifa técnica. Mais uma vez, reduzir o valor da tarifa na roleta é uma medida que penaliza a população.
E por quê? Pois o subsídio é pago com os impostos dos moradores de todo o Estado, então quem mora em Brejetuba e não usa transporte público lá, vai pagar o subsídio de quem mora e anda de ônibus em Vitória.
Reduzir o valor da passagem também penaliza a população.
Bem, se você chegou até aqui talvez me pergunte: e daí? Vamos ficar sem fazer nada, já que tudo penaliza a população? Aqui eu tenho duas questões.
Primeiro. O que se deve discutir é um sistema que para se manter precisa de uma tarifa técnica tão alta e exige tantos subsídios. Tem coisa estranha aí. Então, é importante discutir a “tarifa técnica” e não apenas a “tarifa única”, pois se você pagar menos na roleta, irá pagar mais em impostos e perder recursos para outras finalidades como educação e saúde.
Segundo. Eu tentaria penalizar o Estado, e faria isto tentando parar aquilo que é mais importante para ele: o seu sistema de arrecadação e inteligência. Seria possível parar o sistema de arrecadação de impostos do Governo? Não sei, mas se fosse possível, você faz um protesto, tem repercussão, não fecha o trânsito e afeta o Estado no seu maior interessa: arrecadação. E para desocupar o prédio é um pouco mais complicado, pois precisa de autorização judicial, não é só chamar o BME do nada.
Tem tanto prédio público por aí. Lá na Secretária da Fazenda tem um mural feito pelo paisagista Roberto Burle Marx muito bonito, vale a pena conhecer. E aqueles vitrais no prédio da Secretarou a do Planejamento, bonitos também quando vistos por dentro.
E vocês conhecem a Prodest, é uma empresa do governo estadual que presta serviços interessantes.
Senhores.
É possível penalizar o Estado da forma que se propôs sem penalizar o cidadão?
Julgam que interromper ou atrasar a arrecadação não prejudicaria os serviços que, embora precários, atendem a maior parte da nossa população?
No meu entender a sugestão é absurda, falaciosa e talvez, criminosa.
É claro que a questão do “preço técnico” e dos subsídios deve ser discutida, mas sem a pressão imposta por uma situação caótica.
A sociedade civil deve aprender a se organizar e exigir as melhorias necessárias nos serviços e concessões públicas, porém não deve adotar a barbárie ou ignorar princípios como cidadania e democracia.
No meu entender é a única evolução social possível, não acredito em messias ideológicos (pessoas ou partidos) capazes de “iluminar” a população ignorante e apática.
Talvez, se prestássemos mais atenção em nossa obrigação eleitoral, se entendessemos que ela apenas se inicia com o voto e dura durante todo o mandato daquele que ajudamos a eleger, esta evolução seria mais factível.
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Penso que a idéia do Rogério foi mais no sentido de incentivar a criatividade dos manifestantes, pois atualmente a luta é, literalmente, por nada: ou perde, ou perde!
Abraços!
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Desculpe Carlos, mas o texto parece-me bastante literal.
Imagino que no movimento estudantil existam estudantes de economia, estatística, direito, matemática e informática.
Criatividade seria desenvolver um estudo que comprove matematicamente o exagero da correção proposta e divulgá-lo via internet.
As informações necessárias ao estudo poderiam ser solicitadas formalmente por qualquer cidadão, se o governo não as fornecesse os estudantes pelo menos teriam uma razão para os protestos.
Se o estudo realizado comprovar o exagero do aumento e o custo abusivo de operacionalização do sistema, a sociedade certamente apoiaria os protestos, mesmo com os transtornos.
Vi hoje cerca de 50 a 60 pessoas prejudicarem toda uma cidade. Mesmo que estivessem com razão (o que até evidência em contrário, não é provável) a maioria da população simplesmente não participou.
Ou seja, o interesse de poucos prevalecendo sobre a vontade da maioria.
Dada a falta de coerência dos argumentos em favor dos protestos, parece-me clara a manipulação política deste tipo de movimento.
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Olha, estudante de economia e direito deve até ter, agora estudante com capacidade de julgar se o custo é razoável ou não com certeza não tem. Não basta fazer uma análise de contador, ver se os custos de uma planilha subiram e então a tarifa tem de subir. A avaliação da razoabilidade de custos de uma atividade tem de levar em conta as possibilidades alternativas, o que decerto ninguém é capaz a não ser com expertise na área.
Daí o foco dos textos anteriores na necessidade de ampliar a concorrência, para estimular a busca por alternativas melhores no setor, institucionalmente. Justificar custos é fácil, não passam de planilhas contábeis.
Abraços
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