O “lucro” Brasil I


Um dia alguém inventou uma “explicação” para os preços altos dos carros brasileiros, falou que era culpa do “lucro” Brasil. E isso pegou. Entre leigos não me espanta a aceitação desta justificativa, mas sua divulgação por economistas me incomoda.

Preços são como um termômetro e refletem fatores reais da economia que, grosso modo, podemos chamar de fatores de ‘escassez relativa’ – isto é, aqueles resultantes do cotejamento entre oferta e demanda. O lucro é um preço e, como tal, é consequência de algum fator real da economia.

Deste modo, falar que o carro no Brasil é caro porque o lucro no Brasil é alto não explica a razão de o carro ser caro. É a mesma coisa de se dizer que uma pessoa está com febre e a causa da febre é o termômetro que acusa temperatura acima de 40ºC (na verdade nem isso seria, pois margem de lucro alta não implica em preço alto).Um custo alto e/ou uma margem de lucro alta são consequências de algum outro fator real da economia, e não causa. É (são) esse(s) fator(es) que deve(m) ser explicado(s).

E entre os fatores, são medidas exatamente como esta que explicam o fato de pagarmos por um dos carros mais caros do mundo.

Pombos são mais espertos do que humanos?


Segundo este estudo, pelo menos no que tange ao problema de Monty Hall*, sim.

(Este é um problema que envolve uma pegadinha de probabilidade na qual quase todo ser humano cai. Aparentemente, os pombos aprendem. Para saber o que é o problema de Monty Hall, leia abaixo ou o link do wikipedia acima. Para quem assistiu ao filme Quebrando a Banca, este problema aparece logo no início.)

O estudo aplicou o problema de Monty Hall a pombos e verificou que durante o experimento os pássaros foram se adaptando ao problema. Ao final, os pombos adotaram uma estratégia ótima que maximizasse o retorno esperado do prêmio.

Já os humanos, não. No primeiro dia de experimento, ambos, humano e pombo, adotavam uma estratégia razoavelmente similar. Ao final do trigésimo dia de experimento, como os pombos aprenderam rapidamente, os participantes humanos eram 30,67% menos propensos do que os pombos a adotarem a estratégia correta.

*O que é o problema de Monty Hall?

Suponha que você esteja participando de um jogo com três portas e que atrás de uma delas tenha um carro como prêmio. O apresentador do jogo pede a você que escolha uma porta. Se você escolher a porta que tem o carro, você ganha o carro.

Entretanto, após você escolher sua porta, o apresentador abre uma outra porta do jogo e mostra que aquela porta está vazia. Atrás dela não está o prêmio. O apresentador, então, pergunta: “Você quer mudar de porta?”. Há apenas duas portas sobrando, aquela que você escolheu primeiro e aquela que não foi aberta.

Você mudaria de porta? Qual a probabilidade de você ganhar o prêmio, se mudar de porta?

Em geral, as pessoas acham que é 50%. Afinal, ou o prêmio está na porta que você escolheu, ou está na outra porta que sobrou. Mas essa resposta não é correta.

A forma mais fácil de visualizar isso é a seguinte. Vamos nomear as portas de “porta premiada”, “porta não premiada 1” e “porta não premiada 2”. Ao escolher a sua porta, você tinha 1/3 de probabilidade de escolher cada uma delas.

Se você escolher a “porta premiada” e mudar, você perde. Este evento tem probabilidade de 1/3.

Se você escolher a “porta não premiada 1”, o apresentador irá abrir a “porta não premiada 2”, restando unicamente a “porta premiada”. Então se você mudar, você ganha. Este evento tem probabilidade de 1/3

O mesmo raciocínio acima vale para caso você escolha a “porta não premiada 2”. E, novamente, este evento tem probabilidade 1/3.

Logo, a probabilidade de você ganhar caso mude de porta é 1/3+1/3=2/3=66,66%.

Ao que parece, os pombos aprendem rapidamente que mudar de porta dá mais prêmios ao longo do tempo. Já os humanos têm uma dificuldade enorme de aprender o problema acima, mesmo depois de duas centenas de tentativas, conforme o experimento do estudo!

Monopólio da pobreza


Aqui no Brasil, todo mundo quer usar as leis e o governo para retirar recursos da sociedade em seu favor. Se não para transferência de renda de maneira direta, ao menos para conseguir monopólios.

Os jornalistas, por exemplo, em detrimento da liberdade de expressão, querem reaver o monopólio da notícia, chegando ao ponto esdrúxulo de fazer lobby para uma emenda constitucional. Sobre este tema – que merecia post em separado, mas fica para algum dia – deixo aqui o texto  de Lúcia Guimarães e também texto antigo do Alexandre Barros, que não é sobre o jornalismo, é mais geral, mas cabe bem ao assunto.

Mas os advogados, de quem já falamos aqui (sobre controle de preços), porquanto íntimos do sistema e seus meandros, acabam sendo os piores. Sempre.

Vale à pena ler este artigo de denúncia à OAB, que proíbe o exercício da profissão de forma voluntária. Caso o pobre necessite do serviço, o advogado não pode se oferecer para prestá-lo gratuitamente, para que isso não atrapalhe as intenções da OAB de receber dinheiro público pelo ofício – um verdadeiro monopólio da pobreza.

100 anos de Milton Friedman


Hoje Milton Friedman faria 100 anos. Vale à pena tirar um momento para alguns dos diversos vídeos elencados no canal Free to Choose e ver um dos mais argutos economistas em ação. Deixo abaixo dois do Tyranny of Status Quo:

Propostas de casamento extravagantes


Qual o sentido econômico de uma proposta de casamento extravagante? Al Roth traz uma matéria que explica por que alguns noivos fazem isso: é uma forma de sinalização, para a noiva, amigos e família, de que o noivo está realmente disposto a abandonar seu estilo de vida antigo e constituir uma família.

O meio ambiente, os caminhões e férias coletivas – Sobre intenções e resultados III


Já havíamos visto aqui que uma lei de responsabilidade por acidente de trânsito, com a melhor das intenções, pode ter consequencias indesejáveis; também que a reforma agrária, com pretensões bastante justas, aumenta a violência e o desmatamento. Vimos até que deixar de receber royalties de petróleo, algo que parece ruim, pode ter consequencias muito boas para um estado.

Veja agora esta reportagem (ou aqui). Nova norma de emissão de poluentes obriga as fábricas de caminhões a adotarem o motor Euro 5, que deixa o veículo cerca de 10 a 15% mais caro. Sabendo disso, as pessoas anteciparam as compras no ano passado e agora o mercado está com demanda muito aquém da capacidade. As fábricas estão negociando com sindicatos férias coletivas – entre outros mecanismos – para não haver uma série de demissões.

Tu não deves cometer falácias lógicas


Site interessante, com ilustrações simples de 24 falácias lógicas.

O sistema penal americano


Tinha de compartilhar este post provocativo de A&R sobre o sistema penal americano.

O gráfico abaixo é estarrecedor. Cerca de 5% dos homens afro-americanos estão na cadeia.

O livro dos autores, Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty, ainda está na minha wish list da Amazon. Mas, uma coisa é certa, o blog deles está funcionando muito bem para divulgá-lo.

A fórmula que matou Wall Street


Artigo interessante sobre a gaussian copula function de David Li.

Vale frisar duas partes do final. Primeiro, sobre os gerentes que utilizavam a fórmula:

Their managers, who made the actual calls, lacked the math skills to understand what the models were doing or how they worked. They could, however, understand something as simple as a single correlation number. That was the problem.

E, segundo, Li sobre o seu próprio modelo:

The most dangerous part is when people believe everything coming out of it.

Por ser voltado ao público geral, não sei até que ponto o texto é anedótico. Mas, ilustra bem uma verdade: não é para você pegar um modelo e aplicá-lo a toda e qualquer situação. Ainda mais quando se trata de normalidade e constantes no mundo financeiro.

PS: um leitor recomendou o vídeo “Quants – Os alquimistas de Wall Street”, visto no blog do PC.

Posto de gasolina não pode… mas firma de advocacia pode.


Vez ou outra vemos revolta popular ou governamental contra um suposto cartel feito pelos postos de gasolina.

Mas o que eu gostaria mesmo de ver é uma revolta contra isso aqui. A OAB do DF fixa preço mínimo para honorários. Impressiona o artigo quarto:

Art. 4o É lícito ao advogado contratar valor superior ao previsto na Tabela. Cumpre, entretanto, obrigatoriamente, ao advogado, em atendimento ao dever de zelar pela dignidade da profissão, observar os limites mínimos aqui fixados, não contratando honorários a eles inferiores (concorrência desleal), sob pena das sanções legais.

Busquei na internet e vi que o Taufick comentou o caso. E que já existe processo correndo no CADE.