Links diversos: Discriminação de preços em passagens, vídeo Piketty na USP e replicação dos códigos dos artigos.


Seguem alguns links interessantes da semana:

– Vai comprar passagens? Então não busque somente no “site em português” da companhia aérea, mas também nas versões estrangeiras. Algumas vezes o preço pode ser mais barato, bem mais barato.  Para verificar se isso ocorre por aqui, simulei hoje uma passagem Brasília – Vitória para a virada do ano, tanto na versão em português quanto na versão em inglês do site da TAM. Resultado: no site em inglês a passagem está quase R$1.000,00 mais cara. Neste caso, o gringo que estiver no Brasil pode economizar bastante apenas mudando a linguagem da página, mas já houve relatos de o inverso acontecer (a passagem no site em inglês estar mais barata).

– Lembra que o Piketty estava pelo Brasil? Pois bem, para quem não conseguiu estar presente, agora o  vídeo do debate que ocorreu na USP, com André Lara Resende e Paulo Guedes, está disponível (via Prosa Econômica).

–  Desde 2005, o Quarterly Journal of Political Science solicita aos autores os dados e códigos necessários para a replicação de seus papers. Com isso, o periódico faz uma revisão bem básica: apenas roda o que foi enviado pelos autores – as is – e verifica se os resultados são os mesmos apresentados pelo artigo. Este processo simples tem valido a pena? Segundo Nicholas Eubank, sim:

Experience has shown the answer is an unambiguous “yes.” Of the 24 empirical papers subject to in-house replication review since September 2012, [1] only 4 packages required no modifications. Of the remaining 20 papers, 13 had code that would not execute without errors, 8 failed to include code for results that appeared in the paper, [2] and 7 failed to include installation directions for software dependencies. Most troubling, however, 13 (54 percent) had results in the paper that differed from those generated by the author’s own code. Some of these issues were relatively small — likely arising from rounding errors during transcription — but in other cases they involved incorrectly signed or mis-labeled regression coefficients, large errors in observation counts, and incorrect summary statistics. Frequently, these discrepancies required changes to full columns or tables of results. Moreover, Zachary Peskowitz, who served as the QJPS replication assistant from 2010 to 2012, reports similar levels of replication errors during his tenure as well. The extent of the issues — which occurred despite authors having been informed their packages would be subject to review — points to the necessity of this type of in-house interrogation of code prior to paper publication.

Fica a pergunta: quantos journals brasileiros fazem isso?

(via Dave Giles)

Capitalismo para os pobres. O supra-sumo da discriminação de preços.


Os projetos estão andando, pouco tempo para procrastinar. Mas nem por isso deixo de compartilhar leituras interessantes de outros blogs, que atualmente tem mais tempo de procrastinação produtiva do que este.

Diogo Costa entra no mundo da blogosfera com o provocativo Capitalismo Para os Pobres. Diogo busca recuperar o caráter “progressista” do capitalismo, mostrando como este, quando bem aplicado, beneficia os mais pobres; busca diferenciar entre defender o mercado para todos, e defender privilégios de mercado para algumas empresas, que é o que atualmente se vê no Brasil: um capitalismo de compadres (ou de laços).

Enquanto os ricos têm capitalismo, aos pobres resta o fardo de uma economia ineficiente e regulada:

Pense no varejo. Rico faz compras em Miami. Pobre fica entre comprar produtos chineses altamente tarifados ou o substituto nacional altamente tributado. Pense no trabalho. Rico trabalha como Pessoa Jurídica. Os encargos trabalhistas não abocanhem seu salário. Pobre trabalha amarrado pela CLT. Todo empregado pobre é um trabalhador mais suas circunstâncias fiscais. Pense nas finanças. Rico consegue empréstimos subsidiados pelo BNDES. Pobre tem que pagar juros exorbitantes incluindo os subsídios governamentais. Pense na construção civil. Rico consegue licitação de obras com garantia lucros. Os pobres pagam a conta caso o projeto do rico dê errado. Pense nos impostos. A tributação brasileira é regressiva. Ricos pagam proporcionalmente menos tributos que os pobres.

Em post(s) futuro(s), vou tentar mostrar que essa visão “progressista” sobre o livre-mercado não é ou foi esposada somente por liberais, mas também o foi por muitos dos primeiros reformistas sociais (socialistas, anarquistas).

Alex Tabarrok nos traz um caso curioso de discriminação de preços, talvez o mais engenhoso que já vi.

Você já se perguntou por que companhias áreas vendem a passagem mais cara quanto mais próximo se está da viagem?

É uma forma de discriminar preços. Em geral, aqueles que compram a passagem em cima da hora tem algum compromisso inadiável (como uma reunião de trabalho) e estão dispostos a pagar mais caro. Os que desejam apenas passear são mais flexíveis e mais sensíveis a preços; se a passagem para certo destino e data ficar muito cara, muda-se ou a data, ou o destino, ou ambos. Assim, quem compra com antecedência, em geral, é aquele com a demanda mais elástica, e as companhias aéreas dão desconto.

Mas a única forma de discriminar preços seria pelo tempo da compra? Não. Aparentemente, a empresa GetGoing.com inventou uma nova forma: você escolhe dois destinos para os quais deseja ir e a data. A empresa então sorteia um desses destinos aleatoriamente e compra para você, com cerca de 40% de desconto. A relação é ganha-ganha: você viaja a menor custo; a companhia aérea consegue discriminar preços de maneira mais eficiente, pois, se você é tão flexível assim com relação ao local, você é um passageiro de demanda bastante elástica.

É errado discriminar preço por gênero? 2


Havíamos comentado aqui sobre o estado de Nova York proibir preços diferentes para os cortes de cabelo masculino e feminino.

Agora saiu de novo no Wall Street Journal: União Europeia decide que companhias de seguro não poderão mais diferenciar o preço do prêmio por gênero. Provavelmente, na média, assistiremos a um aumento do preço de seguros de carro e de vida para as mulheres na Europa.

Na reportagem sobre os Salões de Beleza, uma das entrevistadas tinha perguntado:

“What about insurance? Man’s life insurance costs more than women. Same thing with car insurance.”

“E o seguro? O seguro de vida do homem é mais caro do que o das mulheres. Mesma coisa com seguro de carro.”

Às vezes é melhor nem perguntar!

(Via Andrew Gelman)

É errado discriminar preço? Mais ainda por gênero?


No Brasil, alguns iluminados acharam que deveriam favorecer os usuários de cartões de crédito em detrimento dos que preferem pagar à vista e receber desconto. Assim, aqui, apesar de muitos ainda não saberem (como eu não sabia há algum tempo), é proibido discriminar preço por meio de pagamento.

Se você ficava perplexo por não conseguir desconto à vista, eis um dos motivos. Apesar de a transação com o cartão envolver custos adicionais, o lojista é obrigado a cobrar o mesmo preço e dividir estes custos com os demais consumidores que pagam em dinheiro. Os governantes e legisladores do nosso país não se cansam de inventar formas de ferir o bom senso econômico (ou de facilitar a vida das bandeiras de cartão).

Entretanto, não sei se para consolo ou desespero, é possível achar legislações mais esdrúxulas ao redor do mundo.

Você seria a favor de uma lei que proibisse a discriminação de preços por gênero? Posto desta forma – e em virtude do patrulhamento cego do “politicamente correto” – é até capaz de você achar que discriminar preços entre homem e mulher seja algo ruim. Mas, não é. Pare para refletir: você se depara com isso a todo tempo no seu dia-a-dia. Basta ir ao cabeleireiro e perceber que o preço do corte masculino é diferente do preço do corte feminino. Ou comprar um seguro de vida. Ou aderir a um plano de saúde. E assim por diante.

Mas, segundo o Wall Street Journal, desde o ano passado a cidade de Nova York está buscando aplicar uma lei de 1998, multando salões de beleza por diferenciarem seus preços entre homens e mulheres.

Isto concorre em pé de igualdade com a medida brasileira – se já não existir uma lei como essas por aqui, apenas esperando um iluminado, com sua boa vontade bancada pelos cofres públicos, para colocá-lá em prática.

Via Market Design