Prêmios para pesquisas abertas, transparentes e reproduzíveis!


A Berkeley Initiative for Transparency in the Social Sciences (BITSS) anunciou ontem a criação dos prêmios Leamer-Rosenthal por uma ciência social aberta (The Leamer-Rosenthal Prizes for Open Social Science).

Os prêmios tomam os nomes de Edward Leamer – de quem já falamos aqui no blog – e Robert Rosenthal. Ambos trataram de problemas sérios na pesquisa acadêmica como a tendência de publicar/buscar “resultados significantes” – muitas vezes genuinamente confundindo sua função  – ou a tendência de ignorar a sensibilidade das próprias estimativas.  Edward Leamer, em particular, trata extensivamente de uma prática bastante comum entre pesquisadores: a de experimentar vários modelos diferentes, até encontrar um que “pareça publicável”, para depois apresentar apenas aquele resultado como se fosse o único modelo testado.

Serão distribuídos de 6 a 8 prêmios de 10.000 a 15.000 dólares para pesquisadores em ciências sociais (como Economia, Psicologia e Ciências Políticas) que tenham feito trabalhos de transparência exemplar, ferramentas para melhorar o rigor das ciências sociais, ou para professores que tenham causado impacto no ensino e difusão de boas práticas de pesquisa.

Mais especificamente sobre as pesquisas, serão premiadas aquelas que busquem, entre outro pontos: (i) apresentar pré-registro,  cálculo de poder do teste e do tamanho amostral (ainda é raro); (iii) ter os dados e o código para replicação disponíveis e bem documentados (lembrem do caso Reinhart-Rogoff); (iv) disponibilizar os materiais originais – como os questionários de pesquisa – para escrutínio público (lembrem do caso Stapel); (v) apresentação adequada e detalhada dos métodos e resultados.

Ou seja, esta é uma iniciativa que busca premiar bons processos! Acredito que tenha vindo em boa hora, juntando-se a diversas outras críticas sistemáticas que têm sido feitas ao atual estado dos métodos quantitativos nas ciências sociais aplicadas.

O prazo para inscrição é até 13 de setembro. Para você que está fazendo uma pesquisa aberta, reproduzível e cuidadosa, eis uma boa chance de ser reconhecido sem ter que se submeter à busca por temas de manchete de jornal.

Qual é o problema com modelos? Nenhum, o problema é com quem os interpreta…


… como realidade e não como metáforas.

Como diz Edward Leamer: “It is difficult to train a computer to understand a metaphor, and it is likewise difficult to train our students to understand the metaphors of economics, our models. Our students do what anyone unfamiliar with a language does: they take the models literally.” Mas não deviam.

Então, se algum economista te mostrar um modelo de concorrência perfeita, não é para você pensar que os economistas acreditam, nem tampouco para você acreditar que os preços são dados, que para existir concorrência teria de haver milhares de empresas sem poder de mercado, que não existe atividade empresarial fundamentada no erro e na descoberta… interpretar um modelo de concorrência perfeita dessa forma, usando uma analogia de Leamer, é a mesma coisa de olhar um mapa em que a avenida é desenhada na cor vermelha e achar que a avenida é de fato vermelha. Corolário disto: não é para você pegar um modelo e aplicá-lo a toda e qualquer situação – o trabalho do economista é justamente identificar o momento apropriado de utilizá-lo.