Um livro de História do nosso país


Após um período viajando, blog de volta. Para retomar as atividades, compartilho uma imagem não muito boa da realidade educacional de nosso país (via Roberto Ellery):

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Imparcial e historicamente acurado, não?

Isso me lembrou uma prova para médicos, no mesmo nível, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.

Statistics – Venezuela Style


Quase tinha deixado passar este belo e imparcial gráfico das eleições venezuelanas.

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Veja aqui mais exemplos interessantes, desta vez da Fox News.

Estatística na União Soviética


É bastante comum ver argumentos que são contra a liberdade econômica e, ao mesmo tempo, a favor da liberdade acadêmica, artística, de imprensa e de expressão em geral. Confunde-se – propositadamente ou não – democratização da mídia com financiamento público de propaganda ideológica, ou liberdade de imprensa com imprensa “neutra” ou “politicamente correta” (no sentido fluído que essas palavras ganham em cada contexto em que seu interlocutor usa).

Entretanto, ao menos no limite, há uma contradição inerente a este tipo de raciocínio; pois, uma vez que caiba a um órgão central definir quem exerce o quê em cada campo da esfera econômica, isto também abrange a atividade de professores, pesquisadores, jornalistas e artistas.

Se o único jornal a ser permitido no país é um jornal estatal, qual o incentivo para que notícias desfavoráveis ao governo circulem? Se as únicas universidades permitidas no país são estatais, qual o incentivo para que linhas de pesquisa que não agradem ao governo prosperem? E assim por diante. Sim, é possível contra-argumentar este argumento, e depois contra-argumentar o seu contra-argumento, e este é um debate acalorado e interessante; mas não será desenvolvido neste post. A ideia era apenas fazer uma introdução para comentar sobre a situação da ciência estatística na União Soviética na época de Stalin.

A Rússia produziu grandes estatísticos matemáticos, como Kolmogorov e Slutsky (sim, ele também é o mesmo que você estudou em microeconomia). Todavia, conforme se lê em The Lady Tasting Tea: How Statistics Revolutionized Science in the Twentieth Century, o regime comunista considerava que todas as ciências sociais eram, na verdade, ciências de classe, e  deveriam estar subordinadas ao planejamento central do partido. Para eles, a estatística era uma ciência social. E o conceito de “aleatório” ou “erro-padrão” era algo absurdo em uma economia planejada. Nas palavras de Salsburg (p.147-148):

A palavra russa para variável aleatória se traduz como “magnitude acidental”. Para planejadores centrais e teóricos, isso era um insulto […] nada poderia ocorrer por acaso. Magnitudes acidentais poderiam descrever coisas que ocorrem em economias capitalistas – não na Rússia. As aplicações da estatística matemática foram rapidamente reprimidas.

Como resultado os periódicos de estatística foram se extinguindo e os estatísticos matemáticos tiveram que, ou pesquisar assuntos estatísticos disfarçados com outros nomes, ou mudar de área. E enquanto os Estados Unidos utilizavam os desenvolvimentos dos teóricos russos na prática – como no controle de qualidade industrial – a Rússia teve que esperar algumas décadas, até o colapso da União Soviética, para ver o fruto de seus próprios cientistas aplicado à indústria.

A inflação na Argentina II


Primeiro, maquiam os índices de preço.Os trabalhadores percebem, passam a não acreditar na inflação oficial, e exigem a inflação do “carrinho de supermercado”. Solução genial e inédita na América Latina: congelam preços dos supermercados.

Preço mínimo para cigarro.


Como não fumo, apenas recentemente percebi isso – realmente não é só privilégio dos advogados

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Statistics – Fox Style


A estatística não trata só de cálculos – saber comunicar os resultados, inclusive graficamente, é algo fundamental. Gelman, por exemplo, é um autor que gosta de discutir extensivamente a apresentação visual da informação.

Neste quesito, o canal de televisão Fox News tem “inovado” bastante, criando formas curiosas de apresentar dados.

O blog Simply Statistics trouxe vários exemplos. Vejam um deles, o gráfico de pizza abaixo.

Que “beleza”!

(Dica do Rafael Dantas)

É errado discriminar preço por gênero? 2


Havíamos comentado aqui sobre o estado de Nova York proibir preços diferentes para os cortes de cabelo masculino e feminino.

Agora saiu de novo no Wall Street Journal: União Europeia decide que companhias de seguro não poderão mais diferenciar o preço do prêmio por gênero. Provavelmente, na média, assistiremos a um aumento do preço de seguros de carro e de vida para as mulheres na Europa.

Na reportagem sobre os Salões de Beleza, uma das entrevistadas tinha perguntado:

“What about insurance? Man’s life insurance costs more than women. Same thing with car insurance.”

“E o seguro? O seguro de vida do homem é mais caro do que o das mulheres. Mesma coisa com seguro de carro.”

Às vezes é melhor nem perguntar!

(Via Andrew Gelman)

O “lucro” Brasil II


Em post anterior havíamos falado sobre o “lucro” Brasil e que essa “explicação” para os altos preços dos automóveis brasileiros tem ganhado popularidade, inclusive entre economistas.  Agora vamos esclarecer por que essa explicação não está correta e por que a causa do preço alto é o que todos conhecemos como custo Brasil, incluindo o protecionismo, direto e indireto, bem como a alta carga tributária local.

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Esclarecimento 1: Margem de lucro alta não implica em preço alto – nem vice-versa.

Como dito no post anterior, preços são como um termômetro e refletem fatores reais da economia,  resultantes do cotejamento entre oferta e demanda. Corolário disso é que uma margem de lucro alta e  um preço total (ou “nominal”) alto não precisam ter relação. Vejamos alguns contraexemplos.

A soja tem seu preço definido internacionalmente, ou seja, tem virtualmente o mesmo preço nominal em dólar em todos os países. Entretanto, cada país produtor terá uma margem de lucro diferente, em virtude de sua produtividade. A margem de lucro alta, neste caso, refletiria a eficiência relativa do produtor em relação aos seus concorrentes. E, diferentemente do caso dos automóveis brasileiros, não seria algo ruim – preço baixo com lucros altos.

Agora  ilustremos com o caso dos carros. Existiria a possibilidade de a margem média de lucro das montadoras brasileiras aumentar e ainda assim os preços caírem? Sim. Imagine que montadoras mais agressivas – ou mais eficientes – instalem suas fábricas no Brasil. A entrada destas montadoras poderia forçar os preços para baixo e, ainda assim, por elas serem mais eficientes e mais lucrativas, a margem média de lucro do setor poderia aumentar.

Ou ainda, é possível que a margem de lucro do setor de automóveis abaixe e ainda assim os preços aumentem? Sim. Imagine que o governo introduza uma margem de lucro máxima, digamos, de 10%. Como sabemos, a margem de lucro é calculada em cima do preço do veículo.  Este tipo de regulamentação premiaria as montadoras mais ineficientes, pois, quanto maior seu custo total, maior o lucro que é permitido à empresa auferir (pense, você prefere lucrar 10% sobre R$100,00 ou 10% sobre R$1.000,00?). Então, a depender das condições de oferta e demanda, isso poderia resultar em uma margem de lucro menor e um custo maior para os carros brasileiros.

Pela exposição acima, deve ter ficado claro que uma margem de lucro alta não é nem condição necessária, tampouco condição suficiente para preço alto. E, portanto, não explica, por si só, um preço alto.

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Esclarecimento 2:  Carro é bem comercializável e a arbitragem faria valer a lei do preço único. Se aqui o carro é mais caro é porque há restrições que impedem a arbitragem.

Automóveis são o que chamamos de bens comercializáveis. Isto é, são bens sujeitos à importação e à exportação, de modo que seu preço, na ausência de barreiras, não é determinado no mercado interno, mas sim no mercado internacional.

Deste modo, a arbitragem garante que um mesmo automóvel custe o mesmo preço (acrescidos os custos de transação, inclusive os impostos) em qualquer lugar do mundo. Por exemplo, o Kia Soul custa R$ 18 mil no Paraguai, mas no Brasil custa mais do que o dobro. Suponha que não existam altos impostos nem barreiras à importação. Neste caso, o que aconteceria? Bastaria trazer o Kia paraguaio e revendê-lo no Brasil para se lucrar muito dinheiro.  As pessoas fariam isso até que a oportunidade de lucro diminuísse a ponto de a diferença de preços se tornar irrisória.

Se isso não acontece é porque o governo impõe restrições à arbitragem. Existem medidas protecionistas tanto por meio de regulamentação (como, por exemplo, a proibição de se importar carro usado) quanto por meio de tributação (como, por exemplo, o IPI). Além disso, existem os impostos locais sobre o comércio (como ICMS) além de impostos sobre o lucro e a mão-de-obra. São esses fatores que impedem a arbitragem dos preços dos carros.

A exposição acima evidencia um fato simples: o protecionismo e a carga tributária são a causa do preço alto, no sentido de que, caso fossem reduzidos a ponto de permitir a arbitragem, os preços brasileiros convergiriam aos preços internacionais. Isto é, a redução de ambos é condição suficiente para preços baixos – independentemente do que ocorresse com a margem de lucro.

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Neste ponto do argumento, muitos dos que defendem a tese do “lucro” Brasil acabam por simpatizar com as montadoras “brasileiras” e a defender as medidas do governo. Afinal, caso não existisse proteção, o que ocorreria com a indústria nacional?

Acontece que, pelos próprios dados apresentados para “provar” a tese do “lucro” Brasil, é possível demonstrar que as montadoras brasileiras teriam condição de competir internacionalmente: o Gol I-Motion fabricado internamente é vendido no Chile por R$ 29 mil, enquanto que, aqui, custa R$ 46 mil. E é o Custo Brasil que te impede  de arbitrar em cima da própria Volkswagen.

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Resumindo, o problema dos carros brasileiros não é o consumidor otário que aceita pagar caro. Tampouco a solução é parar de comprar carro zero. O problema é a carga tributária em cima da produção doméstica, a carga tributária em cima das importações, a intervenção cambial e outras formas de protecionismo. E é contra isso que você tem que se indignar.

O “lucro” Brasil I


Um dia alguém inventou uma “explicação” para os preços altos dos carros brasileiros, falou que era culpa do “lucro” Brasil. E isso pegou. Entre leigos não me espanta a aceitação desta justificativa, mas sua divulgação por economistas me incomoda.

Preços são como um termômetro e refletem fatores reais da economia que, grosso modo, podemos chamar de fatores de ‘escassez relativa’ – isto é, aqueles resultantes do cotejamento entre oferta e demanda. O lucro é um preço e, como tal, é consequência de algum fator real da economia.

Deste modo, falar que o carro no Brasil é caro porque o lucro no Brasil é alto não explica a razão de o carro ser caro. É a mesma coisa de se dizer que uma pessoa está com febre e a causa da febre é o termômetro que acusa temperatura acima de 40ºC (na verdade nem isso seria, pois margem de lucro alta não implica em preço alto).Um custo alto e/ou uma margem de lucro alta são consequências de algum outro fator real da economia, e não causa. É (são) esse(s) fator(es) que deve(m) ser explicado(s).

E entre os fatores, são medidas exatamente como esta que explicam o fato de pagarmos por um dos carros mais caros do mundo.

É errado discriminar preço? Mais ainda por gênero?


No Brasil, alguns iluminados acharam que deveriam favorecer os usuários de cartões de crédito em detrimento dos que preferem pagar à vista e receber desconto. Assim, aqui, apesar de muitos ainda não saberem (como eu não sabia há algum tempo), é proibido discriminar preço por meio de pagamento.

Se você ficava perplexo por não conseguir desconto à vista, eis um dos motivos. Apesar de a transação com o cartão envolver custos adicionais, o lojista é obrigado a cobrar o mesmo preço e dividir estes custos com os demais consumidores que pagam em dinheiro. Os governantes e legisladores do nosso país não se cansam de inventar formas de ferir o bom senso econômico (ou de facilitar a vida das bandeiras de cartão).

Entretanto, não sei se para consolo ou desespero, é possível achar legislações mais esdrúxulas ao redor do mundo.

Você seria a favor de uma lei que proibisse a discriminação de preços por gênero? Posto desta forma – e em virtude do patrulhamento cego do “politicamente correto” – é até capaz de você achar que discriminar preços entre homem e mulher seja algo ruim. Mas, não é. Pare para refletir: você se depara com isso a todo tempo no seu dia-a-dia. Basta ir ao cabeleireiro e perceber que o preço do corte masculino é diferente do preço do corte feminino. Ou comprar um seguro de vida. Ou aderir a um plano de saúde. E assim por diante.

Mas, segundo o Wall Street Journal, desde o ano passado a cidade de Nova York está buscando aplicar uma lei de 1998, multando salões de beleza por diferenciarem seus preços entre homens e mulheres.

Isto concorre em pé de igualdade com a medida brasileira – se já não existir uma lei como essas por aqui, apenas esperando um iluminado, com sua boa vontade bancada pelos cofres públicos, para colocá-lá em prática.

Via Market Design